Alô, Chico


(Por: Mariano Andrade)

Esta semana, o compositor Chico Buarque foi interpelado por “populares” que foram-lhe questionar seu teimoso apoio irrestrito ao PT. Um dos rapazes bradou que “o PT é bandido” – um erro, pois mesmo o PT não pode ser generalizado. Chico retrucou com “o PSDB é bandido”, faltando-lhe qualquer centelha da habilidade com as palavras que desfila em suas composições. Chico também generalizou, tornou o embate maniqueísta e ratificou o racha do país promovido pela gestão petista. Chico, não é porque um partido parece-lhe bandido que você deve emprestar sua imagem para apoiar outro. Chico, se não tem nada a dizer, cale-se pois o Brasil já enjoou de vinho tinto.


Chico devia estar à toa na vida e não viu a banda passar nestes treze anos de governo do PT. Foi assim: havia um partido onde a honestidade morava, dizendo resolver as questões do Brasil. Finalmente, ele chegou ao poder e, com a rapidez de uma estrela cadente, começaram a brotar escândalos de corrupção. Mas pela sua lei (e às custas de enorme programas de transferência de renda) a gente era obrigado a ser feliz. Enquanto isso, a pátria mãe era subtraída em transações muito mais tenebrosas do que aquelas desbotadas de tempos onde você, Chico, pregava liberdade. Ou seja, Chico, a banda não cantou coisas de amor. Acostume-se a ser cobrado por seu posicionamento, Chico, pois nossos filhos não erram mais cegos pelo continente. Tudo tem limite, a sociedade está enojada e vigilante: cansou de ser a Geni de quem o governo (este ou qualquer outro, Chico) se serve quando quer.

Felizmente, a banda já está terminando seu desfile. Mas, Chico, já é possível dizer como será o final: não haverá emprego para vagabundo, a economia quedará paralisada e não serão erguidas novas construções. Mas abundarão proparoxítonas: o país seguirá trôpego, com líderes ilegítimos, envolvidos em agendas ilícitas... apesar de a propaganda oficial pintar um país tão lindo de se admirar. Chico, você realmente quer fazer parte desse ato final? É melhor ficar à toa na vida.

Todo artista fora-de-série é idealista por natureza. Visualiza onde quer chegar antes de realizar. Por isso, as doutrinas utópicas de esquerda têm tanto eco no meio artístico. Mas o artista é também um crítico – para atingir seu ápice, precisa avaliar seus erros, melhorar sua execução e ser honesto consigo mesmo. Por isso, Chico, que a sociedade cobra de você um mínimo de autocrítica. Você acha mesmo que foi uma boa ideia defender o Chavismo? Você tem ido visitar a Venezuela? Leve papel higiênico na mala quando lá for. Ou tem feito shows em Cuba para celebrar a liberdade de expressão que lá existe? Claro que não.
  
O artista aprende e evolui, assim enriquece sua obra. Então, Chico, vai aqui um aprendizado para você: não existe melhoria social sem criação de riqueza. E riqueza se cria com estado pequeno e eficiente e com condições propícias para a atividade empresarial. Não adianta defender maioridade penal, regimes populistas, ou faz-de-contas que já destruíram outros quintais. Chico, persistindo esta sua postura, você maculará de vez sua figura, tornar-se-á uma lamentável caricatura de suas canções, uma página infeliz da nossa história.

Faça como o comandante do zepelim e mude de ideia. Ou então, Paris é logo ali.

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