(Por: Mariano Andrade, com a colaboração de meu amigo de longuíssima data, Ricardo Mollica)
A declaração do ex-presidente Lula – “não existe, neste
país, alma viva mais honesta do que eu” – causou alvoroço. Os milhões de brasileiros
que cansaram do PT e se enojam com o mar de lama em que nosso país está metido
se revoltaram. Os aliados de Lula o enalteceram, tudo com um clima muito
acalorado.
No entanto, sob a calma da lógica e da matemática, é
possível demonstrar que a afirmação de Lula tem baixíssima probabilidade de ser
verdadeira. Tão baixa que, estatisticamente, rejeita-se a hipótese de ela ser
verdadeira.
O exercício é, na verdade, muito simples.
A hipótese implícita na afirmação de Lula é de que, dentre
os mais de 200 milhões de indivíduos que residem no Brasil, não há um sequer
mais honesto do que ele. Não chega a ser tão improvável como acertar a mega sena
(1 chance em 650 milhões), mas está longe de ser um evento trivial – é análogo
à probabilidade de acertar a mega sena com 3 apostas.
Só isso já bastaria para rejeitar a hipótese. Mas,
aplicando-se uma análise dinâmica é possível descreditar ainda mais a
afirmação do ex-presidente.
Cada cidadão tem, em sua consciência, uma zona branca
(atitudes e condutas corretas), uma zona preta (atitudes e condutas erradas) e
uma área cinzenta no meio. Ocorre que a extensão da região cinzenta varia de
pessoa para pessoa e, durante o decorrer da vida, mesmo as pessoas honestas
são confrontadas com situações onde optam por trafegar em sua zona
cinzenta.
É seguro afirmar que Lula (e políticos em geral) têm regiões
cinzentas bem mais extensas que o cidadão comum de bem. Isso faz parte do jogo
político, onde muitas vezes há que se fazer escolhas difíceis e lidar com
situações de conflito de interesses. Por exemplo: é honesto usar dinheiro
público para construir um estádio de futebol para um time que tem enorme
torcida – deixando, portanto, um monte de gente feliz e gerando empregos–
quando este time por acaso é o seu time de coração? São questões difíceis.
Durante sua longa carreira sindical e política, Lula
inevitavelmente pisou no campo cinzento em diversas empreitadas (oops, ato
falho) e o fez com muito mais frequência que o brasileiro honesto. Assim, ao afirmar
que dentre os mais de 200 milhões de médicos, engenheiros, autônomos, e outros
tantos profissionais não há ninguém mais honesto do ele, Lula constrói uma
aberração estatística e destila arrogância ímpar. Rejeita-se esta hipótese com
louvor.
Esta conclusão é probabilística: não é política, nem
partidária e nem elitista. Deriva da lei dos grandes números. É como jogar o
dado um milhão de vezes – quase que certamente ocorrerá uma sequência de dez
“6” seguidos, embora se o dado fosse jogado apenas vinte vezes esta sequência
seria improvável.
Dessa forma para que a afirmação de Lula seja verdadeira, o
Brasil teria que ser como a cidade de Nova Iorque no filme “Eu sou a lenda”,
estrelado por Will Smith. Com o detalhe de que o cachorro já teria que ter
morrido e assumindo que os zumbis não têm alma.
Ou então, somos um país de desalmados.
Comments
Post a Comment