VAR tomar no cu !


(Por: Mariano Andrade)

Começou a copa do mundo, e copa do mundo é Brasil! No passado, o Brasil se destacava pelo futebol, mas ultimamente tem sido em outros flancos.

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Antes de a bola rolar, um turista brasileiro na Rússia postou um vídeo onde zoava uma russa e o clip viralizou. O cidadão e seus amigos cantavam “buceta rosa” e a russa tentava acompanhar. Num piscar de olhos, houve uma caçada aos participantes do vídeo que já foram identificados e linchados nas redes sociais, sendo tachados de racistas e misóginos. Detalhe: não foi Putin que empreendeu a cruzada, mas sim os hipócritas brasileiros a 12.000 quilômetros de Moscou. Nossos “artistas” de plantão já se prontificaram a dar suas lições de moral, como não poderia deixar de ser.

Brincadeira de mau gosto ou não, a perseguição aos torcedores mostra que o brasileiro não tem mesmo o que fazer. Ao invés de trabalhar, produzir riqueza e tentar sair da rebordosa, o povinho daqui gasta tempo produzindo memes e comentários nas redes sociais. Tudo isso antes de fazer um checklist mínimo de consistência.

Vejamos: Achamos legal zoar os argentinos em 2002 quando foram eliminados na primeira fase, uma rádio brazuca deu-se ao trabalho de ligar para números aleatórios na terra hermana e dizer que estávamos “muy felices” com o fiasco platino. Produzimos milhares de memes com Rubinho Barrichello, ridicularizando sua performance na profissão que ele escolheu seguir – isso nós achamos engraçado. Cantamos “Maradona cheirador” para os argentinos que vieram prestigiar a copa de 2014 no Brasil mas garantimos liderança de audiência a um canal de TV que ostenta Casagrande comentando jogos de futebol e Fabio Assunção atuando na novela. Nessa mesma copa de 2014, vaiamos o hino chileno de forma acintosa no jogo das oitavas de final – motivo: os chilenos enfrentariam o Brasil naquele dia. Fazemos apologia ao carnaval de rua e achamos bacanas os anúncios que incitam a “pegação” – nessa época do ano, no país tropical e abençoado por Deus, os patrulheiros da misoginia estão à toa pelas ruas alisando o cabelo das meninas que passam ou elogiando suas barrigas saradas. Conferimos Ibope a funkeiras como MC Carol que tem letras inenarráveis (“meu namorado é mó otário, mando ele para a cozinha”, ou “a piroca não cantou, muito menos era grossa, eu caí legal na propaganda enganosa”) e, pasmem, o PSOL nos dará a rica oportunidade de também conferir votos a ela em 2018. Como somos moralistas!

Voltando à conexão russa, a "vítima" do clip deixou-se ser filmada, sabia que estava sendo filmada e, por vontade própria, resolveu cantar palavras que não compreendia. Depois vêm os defensores dos fracos e oprimidos – no outro lado do planeta – reclamar do lobo mau? Ridículo. Detalhe: criança assistir à peça “Macaquinhos” pode, mas a russa do vídeo, vacinada e maior de idade, precisa da proteção censora dos hipócritas brasileiros.

Se fossem cinco mulheres assediando um africano na copa de 2010 e cantando “tripé”, “pau grandão”, ou “negão da piroca”, o vídeo seria enaltecido como exemplo de empoderamento feminino. Tudo é possível no país chato em que o Brasil se tornou.

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Pergunta inofensiva: se somos capazes de identificar de maneira tão célere os brincalhões do vídeo, por que somos tão ineficientes em identificar e prender criminosos?

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Coerência é bom e eu gosto.

Há expressão mais misógina do que o dentista tarado de Jô Soares com o bordão “bocããão”? Ou seu outro personagem, o Zezinho, aquela que pedia striptease todo final de programa? Que tal o homofóbico Tavares, com seu refrão “tem pai que é cego”? Chico Anysio não ficava atrás com seu ex-gay, o Haroldo Hétero. O que dizer então de Costinha, seria ele o diabo encarnado? Na tela da TV pode essa zorra total, mas na copa não pode... O nome disso é censura.

Não foi Lula, defensor das minorias e monopolista das virtudes, quem disse que a crise de 2008 foi causada por “gente branca e de olhos azuis”? Onde estavam os moralistas ginecológicos à época para denunciar esse comentário racista e sectário? Pequeno detalhe: comentário este proferido por um chefe de estado, e não por um turista zoador.

O mesmo Lula, recentemente, referiu-se a Manuela D’Ávila como “a menina bonita do PC do B”. Sem mais.

Dois pesos e duas medidas... Especialidade brasileira.

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Primeiro jogo do Brasil. Um parco 1x1 com a Suíça numa péssima partida. Dois lances discutíveis, longe de serem claríssimos, foram o suficiente para descarregarmos a culpa da não-vitória na arbitragem. Até o momento, fomos a única delegação a reclamar formalmente da arbitragem junto à FIFA. A queixa é o juiz não ter acionado o VAR (árbitro de vídeo) nos lances polêmicos. Puro mimimi.

A equipe brasileira, aparentemente, preocupa-se mais com penteados, tatuagens e árbitros de vídeo do que com o bom futebol. Galera, VAR tomar no cu! Ou jogam bola, ou não vão ganhar nada. Ainda dá tempo de desfazer os penteados ridículos e focar no que importa (dica: é o bom futebol, e não a premiação, ok?).

O Brasil repete no futebol nosso hábito horrendo de sempre querer colocar a culpa nos outros. Ora é o capitalismo opressor, ora é a crise internacional, ora é o golpe. Vamos apontando o dedo em todas as direções e seguimos à deriva, sem sair do lugar. Ou melhor, saímos sim: fomos para trás, cortesia da mulher-sapiens. 

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Por falar em cu (sem acento), o PT se supera e lança como candidata ao governo do Rio de Janeiro uma filósofa que se presta a discorrer sobre o "caráter anal", teorizando que o cu é laico. Isso mesmo, vai entender! Será que a língua, o nariz e a orelha têm religião?

Esta “intelectual” também defende o assalto como algo dotado de “mecanismo lógico”. A lógica, no caso, é que a culpa é dos outros. Soa familiar ao leitor ou temos que chamar o VAR? Provavelmente, no calor da campanha, a candidata afirmará que nunca disse isso ou que a fala foi tirada de contexto. Tem tempo para aprender com Ciro Gomes, aquele que nunca afirmou que receberia Sergio Moro “na bala”.

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À parcela neo-chata-hipócrita do Brasil, fica o recado: cresça e apareça. Ou então, vai tomar no meio do seu cu, seja ele laico ou religioso.



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