ZIP


(Por: Mariano Andrade. Uma velha ideia de meu querido pai)

Nos Estados Unidos, o “ZIP code” é o código postal, equivalente ao nosso CEP. O ZIP tem uma grande relevância para famílias que usam as escolas públicas, pois cada escola só pode admitir alunos de determinados ZIPs, aqueles no seu entorno geográfico.

Nas últimas décadas, as casas situadas em ZIPs atendidos pelas escolas públicas mais bem ranqueadas tiveram valorização bem mais expressiva do que imóveis em outros bairros. O efeito perverso foi a crescente elitização das melhores escolas públicas e a consequente perda de mobilidade social em várias cidades.



De fato, alguns estudos acadêmicos indicam que, hoje, o fator explicativo mais poderoso para determinar se uma criança americana será bem-sucedida profissionalmente e financeiramente é seu ZIP code. Um resultado lamentável e que remete às castas profetizadas no romance “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley, publicado há quase 90 anos.


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O Rio de Janeiro também tem um problema de ZIP. Não confundir com CEP, é ZIP mesmo. Nosso problema é ser uma Zona Internacional de Putaria. Que outro estado, país, cidade, empresa ou gangue de bairro teve 5 chefes-executivos presos em 4 anos?

E a putaria ficou internacional. Com a “oportunidade” do coronavírus, importamos respiradores e outros equipamentos para abastecer os hospitais de campanha. Tudo devidamente superfaturado e da pior qualidade. Essa empreitada pode levar Witzel à cadeia, engordando nosso rol de governadores-modelo e nos levando a fechar a sena do xilindró. É uma ZIP, certamente.


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No tão falado vídeo da reunião ministerial, Paulo Guedes mais uma vez deu show e mostrou ser um homem antenado às oportunidades. Quando cita Macau como um “resort” para capturar o dinheiro “que o cara ganhou ontem”, ele parece estar bolando um conceito de turismo com aderência perfeita à vocação do Rio de Janeiro.

Como sempre ouvi meu pai dizer ad nauseam: “Vamos transformar o Rio de Janeiro numa ZIP, Zona Internacional de Putaria. É nossa única vocação”. Na analogia do “Admirável Mundo Novo”, o Rio de Janeiro está situado no “mundo dos selvagens” – então por que não ser a capital da selvageria?

Faz sentido:  um destino turístico onde o visitante pode ter experiências que não terá em nenhum outro lugar do mundo. Esqueçam Macau, Vegas, Rússia, bucetas rosas, e tudo mais.

O menu de atividades da ZIP teria opções básicas como jogatina 24/7 e profissionais do sexo de todas as modalidades. A aquisição do “adicional wylly” daria direito a qualquer pessoa do grupo, mesmo crianças e bebês, fazer operações de mudança de sexo. Crianças poderiam comprar livros de sexo explícito de qualquer modalidade – opa, isso já pode, e tem até a bienal para promover... ato falho.

No nível intermediário, disponibilizaríamos aluguel de metralhadoras, lança-chamas e bazucas. Teríamos também programas como “Bope for a day” e “Tráfico Inc”, uma versão nível hard de escape games, algo como um paintball mega turbinado.

Para o público VIP, ofereceríamos aluguel de tanques e helicópteros militares, bailes funk privês, boca-de-fumo-backstage e outros eventos exclusivos. Para os super-VIPs, teríamos os programas “Deputado for a week”, autoexplicativo, ou “Alerj is mine” onde o cliente comandaria a putaria da Alerj (leia-se: presidiria a Casa) pelo prazo contratado. É que nem jogo de truco: vale roubar – ou seja, business as usual.

Todos esses serviços seriam oferecidos apenas por empresas credenciadas, com o mais alto padrão de qualidade de serviços, sendo certo que pagariam seus tributos (sonegando parte deles para não perder a "vibe") e gerariam milhares de empregos diretos e indiretos. O aeroporto internacional Tom Jobim, em pouco tempo, seria o mais movimentado do mundo e a putaria já começaria ali no saguão mesmo. As empresas de seguros ofereceriam diversas opções de pacotes de cobertura para os visitantes poderem desfrutar da selvageria sem preocupações. As oportunidades são infinitas...

E, claro: vai poder fumar, cheirar, injetar, transar na rua, defecar em praça pública, tudo isso. E não apenas no período de Carnaval. Chupa, Amsterdã!


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Mesmo sem poder (ainda) oferecer esse turismo distópico, o Rio de Janeiro é uma ZIP de fato há tempos. E, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos, nosso “modo ZIP” vem carimbando nosso veredicto: empobrecemos a cada ano e seguimos andando para trás, rumo ao fracasso, enquanto outros estados prosperam.


(P.S. E tem gente que acha que o PSOL é a solução... são os deltas e épsilons de Huxley, os idiotas produzidos em massa)

Comments

  1. Plenamente de acordo, as ideias fluem melhor e há maior rapidez na forma presencial. Entretanto, há vantagens no home office quando o tema é concentração. Mas, de qualquer forma, os resultados dessa concentração será repassada, de alguma forma para outros.
    Um artigo muito bacana!

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    1. Obrigado. Acho que o seu comentário veio em outro post do blog, mas agradeço.

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