(Por: Mariano Andrade)
“One likes to believe in the freedom of music
But glittering prizes and endless compromises
Shatter the illusion of integrity”
(Rush
– “The spirit of radio”)
Ministro de economia
que não entende de economia, juiz que não respeita a lei e jornalista que não
tem compromisso com a verdade são aberrações às quais o brasileiro já se
acostumou. Infelizmente.
Festival de rock sem
rock, idem. Afinal, há muitas edições o Rock In Rio é um evento que pouco tem a
ver com rock’n roll. Tanto que, nas edições mais recentes, há apenas um dia –
conhecido como “o dia do rock” – que é (parcialmente) dedicado ao gênero. De
resto, muito pop, disco, MPB e até rap, axé e samba. Tipo Metallica tocando
numa roda de pagode. (E muuuuito playback e autotune também, o que é uma
desonra para a palavra “rock”).
O que já era ruim
ficou pior – gente que não entende nada de rock querendo escalar o line-up
do único dia de rock do festival. Podem até entender de roda-gigante,
montanha-russa, patrocínio e afins, mas de rock não sabem nada.
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Na edição de 2024, o
tal “dia do rock” foi o terceiro dia do festival, domingo 15 de setembro. No line-up,
havia dois artistas reconhecidamente gigantes e membros do Rock’n Roll Hall of
Fame: Journey e Deep Purple.
Journey ostenta 50
anos de carreira, tendo sido formada por membros da banda de Carlos Santana
(Neal Schon e Greg Rollie). O grupo começou com um rock mais progressivo, mas
depois praticamente criou o gênero “rock de arena” quando Steve Perry assumiu
os vocais. O grupo produziu diversas canções excelentes, atingindo o ápice de
popularidade com os álbuns “Escape” e “Frontiers”, ambos figurando em listas de
discos essenciais de diversas publicações especializadas. Steve Perry
aposentou-se, depois reuniu-se à banda para o álbum “Trial By Fire” e se
aposentou de novo. Para substituí-lo, Neal Schon encontrou na internet – sim,
quase um roteiro de filme da Disney – o filipino Arnel Pineda, que ingressou
como frontman em 2007. O ótimo documentário “Everyman’s Jouney” conta a
história.
Deep Puple, por sua
vez, está na estrada há 60 anos. A banda já passou por diversas formações, mas
canções como “Highway Star”, “Lazy”, “Smoke On The Water”, “Anyone’s Daughter”,
“Woman From Tokyo”, “Mistreated”, “Burn”, “Sometimes I Feel Like Screaming” são
apenas algumas das peças atemporais que o grupo criou. É incrível ver senhores
quase octogenários mandando ver em seus instrumentos, bem como testemunhar que
Ian Gillan, 79 anos, ainda conta com extremo vigor vocal.
Tudo para ser um dia
de rock memorável, certo? Não. A organização do festival não entende xongas de
rock e tentou estragar tudo. Journey foi enfiado no meio do line-up do
palco principal e com apenas 1 hora para tocar – o guitarrista Neal Schon,
espantado, postou em suas redes que só teriam 1 hora de show e que “gostaria de
tocar por 3 horas”. Certamente a banda tem repertório para uma apresentação bem
mais completa e foi obrigada a retirar 4 músicas de seu setlist, além de
diversos solos e jams. Uma das músicas sacadas foi “Who’s Crying Now”
que, poucos sabem, atingiu posição mais alta no chart da Billboard do
que “Don’t Stop Believin’”. Neal Schon é um dos maiores guitarristas de rock da
história, capaz de tocar qualquer estilo de música (sua carreira solo passeia por
blues, world music, jazz e new age, o cara é genial) – mas, no Rock In Rio, o
tempo é cronometrado e Neal Schon não pôde improvisar, privando o público de um
momento autoral, especial e único.
O Deep Purple foi o headliner
do palco sunset, tipo o campeão da série B. Também contou com mísera 1
hora de show e também foi obrigado a retirar 4 músicas de seu setlist, dentre
elas “Uncommon Man” que o grupo compôs em homenagem ao falecido tecladista Jon
Lord. Trata-se de um desrespeito múltiplo – uma das bandas mais icônicas e
responsáveis pelo rock como ele é hoje foi escalada no palco secundário e
impedida de executar todo seu set. Em São Paulo, o fenomenal tecladista Don Airey teve um número solo,
em que, inclusive, tocou o hino nacional com enorme elegância. No Rock In Rio, não tem solo, afinal o relógio faz tic-tac. I’ve
been mistreated...
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Há um erro grosseiro
na montagem dos line-ups. A organização tem o objetivo de enfiar o maior
número de bandas no mesmo dia, independentemente de quais sejam e de sua
importância. Seria muito mais lógico, educado e respeitoso (aos fãs e aos
artistas) ir montando a agenda conforme a duração do set de cada atração
contratada. O número final de bandas pouco importa, o fã que gasta dinheiro, se
desloca até o festival para realizar o sonho de ver seu ídolo não merece setlists
pela metade.
Se Jimi Hendrix
tivesse tocado no Rock In Rio, não teria tido tempo de queimar a guitarra. Se
Robert Plant e Jimmy Page aceitassem se reunir para tocar no Rock In Rio,
teriam que tirar “Kashmir” e “Aquilles Last Stand” do set, pois são
longas demais. BB King seria relegado ao palco secundário (dando lugar a um
rapper de quinta categoria ou a uma cantora rebolativa no palco mundo,
naturalmente com playback) e não poderia brindar o público com solos de
improviso. Eddie Van Halen (RIP) não poderia fazer seu número solo com tappings
e harmônicos que só ele era capaz de produzir. Ou seja, tudo diferente do
verdadeiro espírito do rock.
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Ainda fica pior.
Parece que há alguma animosidade da organização com os artistas realmente
roqueiros. As falhas de som são bem mais frequentes e bem mais sérias nas
apresentações das bandas de rock. No passado, o Iron Maiden teve a abertura de
seu show com a poderosa “Moonchild” prejudicada, ficando a música metade do
tempo com a voz desligada. Angra e Tarja Turunen passaram por sérios problemas
no retorno. E por aí vai.
Na edição de 2024, os
dois dinossauros também não foram poupados. O show do Journey teve problemas de
som do início ao fim, com volume baixo e com retornos in-ear falhando. O
vocalista Arnel Pineda passou o show inteiro pedindo mais retorno e mais volume
nos PAs. A abertura do Deep Purple com a enérgica “Highway Star” ficou algumas
estrofes sem vocal por problemas no microfone.
Parece haver um complô
para, aos poucos, ir maldizendo o rock’n roll e expulsá-lo do evento.
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Aliás, os boçais de plantão (tradução: “jornalistas”) têm a pauta recorrente de esculachar as apresentações de rock (leia-se: rock de verdade) do festival. Este ano, a vítima foi o Journey, apesar de ter entregado um showzaço. O G1, do alto de sua isenção e autoridade no assunto (ironia, ok?), escreveu uma crítica vil e inepta mirando o vocalista Arnel Pineda. Nenhum cantor consegue interpretar perfeitamente as melodias das canções do Journey sem o retorno adequado. Não dá para comparar uma banda cheia de harmonizações vocais e linhas melódicas complexas com um outra com vocal simples (ou, que dirá, playback), algo que os “jornalistas” certamente desconhecem. Além disso, comparar QUALQUER cantor a Steve Perry é pura covardia. Não é uma opinião, é um fato. Explico: Steve Perry é um fora-de-série. No documentário “A noite que mudou o pop”, está registrado que na gravação de “We are the world” o ÚNICO cantor que satisfez o produtor Quincy Jones no primeiro take foi Steve Perry – nem Michael Jackson, nem Lionel Richie, nem Diana Ross conseguiram a proeza. E, finalmente, o “jornalista” evidencia seu desconhecimento sobre o assunto (e/ou premeditação) ao qualificar a voz de Arnel como “estridente” – Arnel tem timbre bem mais rouco do que Steve Perry.
Nem o próprio Steve
Perry resistiu a anos e anos cantando as canções do Journey, claro que nunca recorreu a
“pegadinhas” – isto é, baixar a tonalidade, usar corretor de voz, ou inserir
falsetes. Arnel chegou ao Rio após bem-sucedida turnê de verão nos EUA, claro
que não estava no topo de sua saúde vocal. E ainda sofreu com o in-ear.
E daí? Entregou-se ao show, “with open arms”, mesmo com setlist
cruelmente capado e com problemas de áudio (sabotagem?). Arnel não foi perfeito, nem poderia. E daí? No melhor espírito
rock’n roll, a banda entregou uma baita apresentação, densa, magnética e cheia de energia.
O “jornalista” também
argumenta que o público não se animou. Errado, quem estava lá no gramado estava
bem empolgado com o show, basta ver comentários nos diversos vídeos do Youtube.
Se o “jornalista” estava no sofá e se os fãs de Evanescence e Avenged Sevenfold
não conhecem o catálogo do Journey, pior para eles. Também não conheceriam REO
Speedwagon, Eagles, Tom Petty (RIP), Styx, Neil Diamond, e tantos outros
artistas que têm sucesso muito maior nos EUA do que internacionalmente e que,
pela régua do “especialista”, não caberiam no Brasil.
O show de Cindy Lauper
teve os mesmos problemas de retorno no in-ear que também causaram
semi-tonações e dificuldades para a cantora acompanhar os compassos. Mas como é
uma artista mulher, suas músicas falam de feminismo, girlpower e afins,
a análise do mesmo G1 relata os problemas, mas enaltece o show (que, de fato,
foi honesto). Pura covardia e hate-speech contra
o rock’n roll. Time after time…
É fácil entender o
porquê do ataque a Arnel, um sujeito de origem pobre nas Filipinas. No
documentário, Arnel diz que provavelmente envolver-se-ia com o tráfico de
drogas em algum momento, pois era o caminho mais fácil de ganhar algum dinheiro.
A sua ida para o Journey e o sucesso que alcançou é a antítese da agenda woke
que enaltece traficantes e bandidos.
Arnel tem a bênção e a
admiração de Steve Perry, não precisa da aprovação de críticos de ocasião que nada
entendem de música. G1 e outros “jornalistas”, fiquem com os “artistas” de
playback e as bandas que fazem apologia às drogas, vocês se merecem. O rock’n
roll agradece!
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Aos membros da
organização: é um absurdo abreviar o setlist de qualquer artista consagrado,
especialmente de lendas como Journey e Deep Purple. Havia fãs de toda parte do
país e da América do Sul que tiveram seus sonhos de rock parcialmente frustrados. E parem de
enganar os fãs com um festival que permite playback e autotunes. O Rock In Rio hoje
entrega uma mistura de “Clock In Rio” com “Mock In Rio”.
Mudem o nome do evento
ou passem a honrar o rock’n roll.
(Ozzy
Osbourne – “You can’t kill rock’n roll”)
(P.S. Este outro "crítico" foi ainda mais longe, sugere que a banda deveria acabar porque "há anos que não lança material novo relevante.".
É verdade que os álbuns com Arnel não se comparam à fase que vai de "Infinity" a "Frontiers" e a banda é honesta com seus fãs de não tentar fazer shows baseados nos novos discos. Mas, acabar? Então serviria também para que Paul McCartney, Rolling Stones, AC/DC, além de artistas queridinhos da mídia como Cindy Lauper e Madonna cessassem suas atividades de turnês. Pelo menos, por essa régua, o lamentável Roger Waters e a infeliz guitarra palestina de Eric Clapton também iriam para a aposentadoria. Sempre há um lado bom.).
Suave como um torno e delicado como uma prensa....perfeito!!
ReplyDeletePerfeito não, Rocha. Perfeito só fica com autotunes (ou o Steve Perry). Não uso truques, aqui é rock'n roll. "No machines", entendedores de rock entenderão!
ReplyDeleteJust wood!😀
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