Filhos do silêncio

 

(Por: Mariano Andrade)

 

“Silence is the most perfect expression of scorn” (Bernard Shaw)


O filme “Filhos do silêncio” de 1986 mostra o saudoso William Hurt no papel de um professor de linguagem dos sinais com métodos pouco ortodoxos. Recém-contratado em uma nova escola, ele conhece e se apaixona por uma aluna arredia e temerosa das dificuldades do mundo fora da escola.

A atriz Marlee Matlin, surda desde bebê, interpretou a protagonista feminina, sendo que na época era casada com William Hurt. Matlin venceu o Oscar de melhor atriz por sua atuação, não sem escapar de alguns questionamentos na ocasião, sob a tese de que Matlin “interpretava ela mesma”.

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Os eleitores de Lula são os verdadeiros filhos do silêncio quase 40 anos depois do filme. Lula e Janja não endereçam nenhum assunto polêmico ou que frustre aqueles que fizeram o L.

Bolsonaro era o misógino. Mas o filho de Lula foi acusado de violência física e psicológica contra a sua ex-mulher. Comentários de Lula ou Janja? Nem sinal, com trocadilho. https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2024/04/04/ex-mulher-que-acusa-filho-cacula-de-lula-de-agressao-sera-ouvida-pela-policia-na-sexta-feira.ghtml

Cerrado brasileiro em chamas, desmatamento na Amazônia. Alguma explicação ou prestação de contas de Lula aos eleitores que o escolheram pela pauta ambiental, afinal Bolsonaro era o inimigo do clima? Silêncio na floresta...  https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2024/05/01/numero-de-queimadas-bate-recorde-no-brasil-nos-primeiros-quatro-meses-de-2024.ghtml

Tragédia climática no Rio Grande do Sul em 2023, enquanto Janja e Janjo visitam a Índia, hospedando-se em hotéis caríssimos e somando mais despesas aos bilhões gastos em viagens. Ao chegar em solo indiano, Janja faz dancinha com “namastê” apesar do sofrimento do povo gaúcho, depois apagou o vídeo. Algum mea culpa? Não, um silêncio de dar inveja a monges budistas.

(Bolsonaro foi corretamente criticado em 2021 pela mesma ausência, mas agora é só silêncio.)

Aliás, Janja adora dançar enquanto os outros sofrem. No carnaval de 2023, enquanto o litoral de São Paulo agonizava, Janja foi aproveitar o carnaval da Bahia. Não deu para ouvir nenhum pedido de desculpas, o som do trio elétrico foi mais alto. 

Novas enchentes no Rio Grande do Sul em 2024. Lula, ao chegar em solo gaúcho, desfila seu humanismo ao declarar em meio à situação caótica que está “torcendo para o Inter e para o Grêmio”. Por sua vez, Janja “erra” o Rio, não visita o Rio Grande do Sul, mas vai ao Rio de Janeiro para assistir ao show da Madonna. Má, donna Janja, muito má com aqueles que estão sofrendo. 

(Nota de atualização: A imprensa oficial Globo até dava como esperado o seu encontro com Madonna. Aparentemente, Janja desistiu do show em cima da hora por conta das críticas e para não afetar a já diminuta popularidade do maridão. Mas o meme do carnaval de 2023 foi devidamente reciclado nos grupos de whatsapp.)


Dando o crédito onde ele é devido: Janja e Lula falaram bastante sobre um assunto triste – a morte do cão Joca, por falhas operacionais da companhia que realizava o transporte aéreo do animal. Realmente um luto para a família de Joca e um erro absurdo da empresa, não há dúvidas. Porém, o destaque desproporcional que Janja e Janjo deram ao assunto, com direito a bronca em ministro, gravata de cachorrinho e várias declarações públicas mostram a agenda puramente midiática do casal e do governo. Janja ficou, em suas palavras, “abalada” com a morte do cão, mas repetidamente silencia sobre as famílias vítimas das enchentes, a vítima do Lulinha ou o pobre cerrado brasileiro. Se o povo brasileiro, as mulheres e o clima passarem a ser tratados como cachorro pela duplinha, será um tremendo upgrade. https://www.poder360.com.br/poder-gente/janja-diz-ter-ficado-abalada-com-morte-de-cachorro-em-voo-da-gol/

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Para alguém com mínima honestidade intelectual e que tenha votado em Lula, uma declaração séria do “pai dos pobres” sobre o “Twitter files” seria esperada. No entanto, no habitual tom raivoso, o ungido pelas urnas invioláveis declarou que “Elon Musk nunca produziu um pé de capim nesse país”. Conclui-se que, portanto, Musk não pode opinar sobre o Brasil. Pergunta seguinte: quantos pés de capim Lula produziu na Ucrânia ou na Rússia? Em Gaza? Em Israel? Em qualquer lugar dos muitos sobre os quais emite suas opiniões desqualificadas? Silêncio na imprensa, silêncio em meio as bombas (físicas e morais)...

Houve silêncio também no ato de 1º de maio de Lula em São Paulo. Era para ser barulhento, haver ovação e os habituais gritos de ordem esquerdistas. Mas só se ouviu Lula: ele deu bronca, disse que o evento tinha sido mal convocado e que ia conversar com ministros A e B. Mas a verdade é que as urnas não produzem barulho e a “multidão” que hoje apoia Lula é tão educada que fica calada para melhor ouvir seu líder. Ah, pudemos até ouvir Lula cometer crime eleitoral.

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Janja interpreta uma deslumbrada, que se embebeda com móveis caríssimos (e, comprovadamente, desnecessários), viagens ao redor do mundo, hotéis de luxo, convite para show de popstar decadente, e outros bilhões de despesas inúteis. Pronuncia-se sobre cães, compras de 50 dólares e outros assuntos do mais alto relevo para o progresso do país. Quando o faz, tenta ganhar o Oscar com uma atuação ridícula na qual se veste de uma fisionomia de compaixão e pesar, enquanto pensa na próxima bocada, balada ou viagem internacional.

Lula interpreta a si mesmo – um ególatra ignorante, sem qualquer competência ou conteúdo, cujos chefes conseguiram (mais uma vez) enganar os incautos sobre sua preocupação com clima, direitos das mulheres ou questões humanitárias. Para essa turma, não adianta falar – são surdos para a verdade – e não adianta linguagem dos sinais. São os idiotas úteis que não contratariam Lula para gerenciar sua conta bancária ou seu condomínio, mas votam no despreparado para presidente. Nem desenhando os boçais vão compreender que são massa de manobra e condenados ao eterno papel de filhos do silêncio.

Esses filhos do silêncio, assim como a personagem do filme, têm medo do mundo, do trabalho, da responsabilidade. Por isso, sempre há o culpado da vez: Bolsonaro, Israel, o capitalismo opressor ou qualquer outra bobagem conveniente.

Para a imprensa, os formadores de opinião e os isentões que sabidamente apoiaram um inepto, ficam as palavras de Ella Wheeler Wilcox: “To sin by silence, when we should protest, makes cowards out of men”.

 

(P.S. O título do filme em inglês é “Children of a lesser god”. Uma hipótese sobre os que seguem apoiando Lula é que talvez sejam filhos de um deus menor, que não lhes dotou de honestidade intelectual, poder de crítica ou inteligência básica.)

 

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