Banana-da-terra

 (Por: Mariano Andrade)


O Brasil é a república das bananas, todos sabemos. É o país do jeitinho, da dissimulação e do “você sabe com quem está falando?”. É o país onde uma propaganda de cigarro cunha um slogan que define com tanta precisão a nossa malandragem que ele vira a “lei” de Gérson. É o país que De Gaulle bem identificou não ser sério. É o país que, em 30 anos de voto direto para presidente, conseguiu eleger dois que foram afastados do cargo, um que instalou o maior esquema de corrupção da história universal e outro que endereça a nação para discorrer sobre as conquistas amorosas do filho caçula.

Sem mais.


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A patética decisão de Fachin que anulou as condenações de Lula e o tornou elegível não deveria ser surpreendente. Afinal, o STF prima pelo partidarismo e a história de Fachin nessa seara fala por si só. Mas as consequências serão tétricas para todos, seja você de direita, de esquerda, de centro ou de qualquer lugar.

Parênteses – um novo verbete poderia ser criado para eternizar o feito de Fachin. Uma “fachina” (substantivo feminino) seria o oposto de “faxina”, ou seja, espalhar sujeira, emporcalhar. Fica a ideia para os linguistas.

A polarização política decorrente da mais nova excrescência do STF será a tônica no Brasil até a eleição de 2022. Significa Lula x Bolsonaro como único tema, o resto não importa. Para uma república bananeira como a nossa, que conta com eleitorado de histórico pífio e cenário político beirando a imbecilidade, é difícil esperar outra coisa.

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Lula x Bolsonaro é a expressão máxima da nossa incompetência e pobreza políticas. Analisando o problema sob uma hipotética lente corporativa, isso fica cristalino. Vejamos:

De um lado, Lula. O funcionário que foi afastado da empresa por criar um sistema que desviava recursos do caixa, beneficiando a si mesmo e a outros integrantes amigos seus. Lula performou bem no seu cargo e entregou bons resultados (na ótica de alguns, este autor não se inclui), mas não tinha o comportamento ético exigido na firma.

Você contrataria Lula de volta? Vale o “rouba mas faz” no mundo corporativo?

Do outro lado, Bolsonaro. O funcionário que foi contratado para substituir Lula pelo simples motivo de que o posto ficara vago pelo episódio do desvio. O histórico profissional de Bolsonaro não indicava competência suficiente para o cargo, mas ele tinha um bom discurso nas entrevistas, ótimos conselheiros e, crucialmente, ficha limpa. Era a bola da vez e a firma necessitava de alguém para ocupar a posição.

Avizinhando-se o fim do contrato de trabalho de Bolsonaro, a diretoria constata que ele é limitado e entregou bem menos do que o esperado. Ademais é tosco, belicoso e claramente não tem os requisitos para ocupar a posição. Você reconduziria Bolsonaro ao cargo?

Essa hipotética corporação é tão medíocre a ponto de não cogitar entrevistar outros candidatos? Ou pior, de não enxergar a necessidade de fazê-lo?

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Lula x Bolsonaro é o cachorro correndo em círculos atrás do próprio rabo, nunca sai do lugar. Pior: o terreno em que o cachorro dá voltas é movediço e o animal aos poucos vai afundando. Cada vez que pega o rabo, acha que “mandou bem”, mas está – na verdade – ainda mais enterrado.

Este é o Brasil. Dando voltas sem sair do lugar enquanto outras nações prosperam. Ou melhor, saímos sim do lugar: na verdade, afundamos e empobrecemos cada vez mais. Aqueles que comemorarem o “volta Lula” ou “o mito” têm QI sub-canino, celebram a captura do próprio rabo. Festejam o fato de a república das bananas estar cada vez mais enterrada. Regozijam-se da “fachina” no país.

Haja banana-da-terra para alimentar esse gado.

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Romeu, senhor, Zema piedade de nós!






Comments

  1. Valeu, Rochinha. Difícil ter esperanças... Acho que até você e minha mãe, eternos ufanistas, já estão desistindo.

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    1. Obrigado. Não sei se fico feliz com o elogio ao texto ou triste com a sua constatação de que estamos mesmo f**dos!!

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