Maia Tsé-Tung


(Por: Mariano Andrade)


A Revolução Cultural Chinesa, liderada por Mao Tsé-Tung a partir de 1966, não tinha nada de cultural. Na verdade, foi uma campanha totalitária para suprimir opiniões contrárias à agenda Maoísta dentro do partido, tanto aquelas mais alinhadas à URSS como também as correntes mais ocidentalizadas.
A “revolução” não teve nada de espontâneo. Embora não tenha emanado do povo, ela não se limitou ao partido. Houve violência contra camponeses, estudantes, intelectuais – segundo alguns historiadores, a Guarda Vermelha tinha mandato para executar quem usasse óculos, pois isso era sinal de que o indivíduo lia, e a leitura era um risco para o regime.
Mao está no rol dos grandes genocidas da História. Durante seu comando, estima-se que entre 50 e 100 milhões de pessoas tenham sido executadas. Alguns autores estimam até 200 milhões.
Longe de ser uma democracia.

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O brasileiro vive na ilusão de que temos aqui uma democracia. Sim, escolhemos o poder executivo e o legislativo em eleições livres. Para por aí. O exercício do poder no Brasil não tem nada de democrático.
Os principais agentes do judiciário não são escolhidos pelo povo. Ao contrário, são indicados e sancionados num processo pouco transparente, poluído por vieses político-ideológicos e – pior – gozam de mandatos longos até a aposentadoria compulsória, saída intempestiva ou queda de avião.
Com a moda de o STF legislar, desrespeitando ele mesmo a divisão dos poderes prevista da constituição, temos um poder legislativo marrom que não reflete em nada a escolha dos votantes.
A bancada legislativa, logo na largada, não reflete nem a contagem de votos. Como há as jabuticabas de quociente eleitoral, voto na legenda e outros mecanismos perversos, as escolhas populares são subvertidas em prol da organização partidária. O resultado: temos parlamentares empossados que receberam menos votos do que candidatos que não lograram o mandato.
Longe de ser uma democracia.

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A nossa lamentável “Constituição Cidadã”, obra de políticos profissionais como Mário Covas, Ulysses Guimarães e outras figuras que não deixam saudade só faz azedar ainda mais o caldo.
A Assembleia Nacional Constituinte, de forma fisiológica e repugnante, elaborou uma carta constitucional na qual atribuía à classe política poderes desproporcionais. Ou seja: os parlamentares, alguns deles tendo conseguido seu mandato graças a votos destinados a outros candidatos, têm na mão o poder de impedir o executivo de governar.
A fisiologia da classe política advém daí. Um sistema bipartidário e/ou que contasse com espírito público decente conviveria bem com esta carta constitucional. Contudo, temos o cacoete de eleger pessoas lamentáveis e que colocam sua agenda pessoal em primeiro lugar. Resultado: dezenas de partidos e aglutinações de parlamentares em torno de pautas que lhes interessam, mesmo que antagônicas ou desconectadas do interesse público e da agenda do executivo (este sim eleito democraticamente).
Esta constatação não depende de ideologia. Se o afastamento de Dilma Rousseff foi um golpe como sustentam os esquerdistas, corroboram que o poder do legislativo e judiciário é desproporcional e antidemocrático.
Fernando Collor, primeiro presidente eleito diretamente após o período militar, encontrou uma barreira intransponível no legislativo e tentou governar por medidas provisórias. Perdeu e renunciou. Fez mil trapalhadas pelo caminho, mas teria sido impedido por conta de um Fiat Elba.
Fernando Henrique, um ególatra que desejava a reeleição a qualquer custo, teve que escolher entre sua agenda pessoal (aprovar a emenda da reeleição) ou a agenda pública (reforma da previdência). Ele não tinha como atender o quid pro quo do Congresso para as duas pautas, aprendera com o episódio Collor que não poderia vencer. Escolheu a agenda pessoal e atrasou 20 anos a reforma da seguridade social, impingindo enormes prejuízos às contas públicas e ao bem-estar da população.
Lula e o PT souberam distribuir bem o produto de seus malfeitos de forma a manter uma boa vizinhança com os demais poderes. Venceram, mas aqui só se vence junto com os demais poderes e vimos que a conta é cara demais. Os acionistas da Petrobrás que o digam.

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Rodrigo Maia tem um poder desproporcional como presidente da Câmara, assim como tinham LEM e Eduardo Cunha. Rodrigo Maia contabilizou uns 70 mil votos, já computando aqueles que vieram pela legenda na nossa trapizonga eleitoral. Menos de 1% dos votos do Rio de Janeiro e um nada perto dos mais de 57 milhões de Bolsonaro. Maia não é produto da democracia. Bolsonaro, Dilma, Lula, FHC e Collor são, goste-se deles ou não. 
O poder que tem Rodrigo Maia não emana do povo e nem é exercido em seu nome. No entanto, Maia evoca amiúde que ”o executivo tem que respeitar a divisão de poderes” e que "o Congresso está aberto ao diálogo com o presidente". Pode parecer uma ode à democracia, mas não é. Assim como a Revolução Cultural não teve nada a ver com cultura.
Traduções possíveis: “Sabe com quem está falando?”, “Quem manda nessa porra sou eu”, “Quem manda nessa porra somos eu e meus camaradas”, “Anda na linha senão já viu o que acontece com presidente aqui”, “Você pode ter 57 milhões de votos mas vai comer na minha mão, otário”, etc]

Renata Barreto traduziu com mais elegância na CNN. Palmas para ela. 
https://m.facebook.com/AlexanderBrasilOficial/videos/235872944437419/
Ao controlar a pauta da Câmara dos Deputados, o presidente da Casa interfere enormemente na eficácia do executivo, positiva ou negativamente. A imagem abaixo que circulou nas mídias sociais é o “boletim” de Rodrigo Maia, cada um julgue como quiser.

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Maia nem disfarça mais sua intenção de exercer o poder central. Em recente post, Flavio Bolsonaro comparou o episódio de Chernobyl e a subsequente mentira soviética ao mundo ao recente vírus chinês. A comparação mostrou-se absolutamente adequada, especialmente com a China recentemente “revisando” dados de mortos em Wuhan e sem explicar o paradeiros dos médicos que queriam alertar o mundo. (Não é a primeira vez – A grande fome chinesa, resultado das políticas tresloucadas de Mao, teve o número de vítimas questionado internacionalmente e revisado pela China algumas vezes). Maia apressou-se em pedir desculpas “oficiais” à China. Hã? Quem disse que o presidente da Câmara dos Deputados responde pelo país? E quem disse que o país tem que se desculpar sobre a opinião de um deputado? Maia desculpou-se aos acionistas estrangeiros de Petrobrás pelos malfeitos?

(Nota - vale conferir a bela resposta que um jornalista alemão deu ao regime chinês. https://www.youtube.com/watch?v=4PsMqLbCWdM )

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E os tolinhos brasileiros achando que temos uma democracia.
Somos governados por ministros do STF, uma trupe indicada por Sarney, FHC, Lula, Dilma e Temer. Defenestramos o PT, mas não nos livramos de sua agenda. Somos governados por um deputado que se esquivou da campanha presidencial por saber que auferiria votação ridícula e que quase ficou de fora mesmo para o cargo legislativo. O presidente da Câmara poderia ser Gleisi, Aécio, Alexandre Frota... faz a gente pensar, não é mesmo?
É curioso que estejamos preocupados com os pronunciamentos toscos de Bolsonaro, com quem é o ministro da saúde (sério? Já tivemos José Serra, fisiologia pura, e não houve comoção), ou se Paulo Guedes usa corretamente a máscara.

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Como é mesmo aquele slogan antigo? “Diretas jaz”?

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