Cometavírus

 

(Por: Mariano Andrade)


Filmes com temática de destruição do planeta Terra sempre capturaram a atenção do público. “The Day After” (2004) pegou o gancho do aquecimento global para mostrar um cenário catastrófico. “Núcleo” (2003) retratou uma expedição ao centro da Terra para “dar um tranco” e fazer o núcleo girar e restabelecer nosso campo magnético. “Geostorm” (2017) mostrou a ocorrência de vários eventos climáticos assolando o globo. “Impacto Profundo” (1998), “Armageddon” (1998) e o recente “Greenland” (2020) exploraram a colisão de corpos celestes ameaçando a existência humana.


Até agora, as produções se concentravam em mostrar a humanidade tentando sobreviver à possível destruição física do planeta.

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O novo filme da Netflix, “Don’t Look Up”, inverte essa equação e retrata o planeta tentando sobreviver à imbecilidade humana.

Os mais céticos diriam – “ah, mais um filme sobre um novo cometa batendo na Terra, que coisa batida...”. Ledo engano! O filme não é sobre um cometa, e sim sobre a pandemia do coronavírus.

Para explicar, e com o aviso de que contém spoilers, segue um quadro “de-para”:

Don’t Look Up

 

Coronavírus

EUA não dando bola para novo corpo celeste ameaçador

EUA não dando bola para notícias de um vírus na China em outubro de 2019

Governo americano tentando silenciar os cientistas que descobriram a ameaça.

Médico que identificou o coronavírus e tentou avisar ao mundo sendo “sumido” pelo governo Chinês.

Governo americano ejetando a personagem de Jennifer Lawrence.

Comunidade “científica” vilipendiando toda e qualquer pesquisa sobre medicamentos baratos que pudessem se mostrar eficazes no tratamento.

Astrônomo medíocre alçado ao posto de sumidade de todo e qualquer assunto corrente, interpretado por Anthony Fauci, oops, Leonardo DiCaprio.

Antônio Falso

Empresa maligna tentando se aproveitar da situação e propagando a mensagem de que será benéfico para toda a sociedade.

Laboratórios farmacêuticos e suas vacinas apressadas cujos efeitos colaterais poderão vir a ser mais danosos que o risco do vírus.

Mídia idiotizada.

Mídia idiotizada e politicamente motivada (desculpem o pleonasmo).

Redes sociais idiotizadas.

Redes sociais idiotizadas.

Celebridades medíocres e imbecis.

Celebridades inúteis, decadentes e imbecis dando opinião sobre assunto que não dominam.

“O cometa não existe”.

“O vírus é um boato”.

 

Talvez o autor até tenha pensado no Brasil, pois alguns dos personagens se encaixam perfeitamente na pandemia versão tupiniquim. O filme também é brilhante em retratar características tão salientes em nosso “jeitinho” de levar a vida. Vejam só:

Don’t Look Up

 

Coronavírus no Brasil / Brazilian way of life

Presidente americana preocupada com eleições e não em tomar boas decisões.

Idem.

Filho idiota da presidente americana.

Idem vezes 3.

Astrônomo medíocre lançado ao estrelado e obtendo o posto de garoto-propaganda do governo. É interpretado por Dráuzio Varella, oops, Leonardo DiCaprio.

Leonardo DiCaprio, oops... O outro.

Empresa de telecomunicações patrocinando o governo.

Muuuito anterior ao coronavírus, mas bem tropical: empresas de construção pesada patrocinando governo, oposição e qualquer forma de poder público.

Idiotas úteis discutindo fervorosamente “just look up” ou “don’t look up”.

Vacina x não-vacina, Lula x Bolsonaro... a lista é longa.

“O cometa não existe”.

“Não houve roubo na Petrobrás”.

Militar graduado “fazendo um ganho” de USD 10 nos colegas.

Lei de Gérson.


E, para fechar o caixão e o paralelo com o Brasil (mais um pleonasmo), no fim do filme sobrevivem os mais desprezíveis. É a triste história da política brasileira, com Lula, Sarney, Renan e tantos outros que perduram numa terra arrasada e espoliada.

 

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O filme desnuda a agenda egoísta, corrupta e venal das instâncias superiores que deveriam operar no melhor interesse da sociedade (o governo) ou, ao menos, respeitando parâmetros sociais (as empresas). O título “Don’t Look Up” é muito apropriado, pois se olharmos fria e atentamente para os entes que estão nos andares de cima, veremos que a humanidade está mesmo condenada.


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