(Por: Mariano Andrade)
A maioria dos quartos de hotel
tem aquele penduricalho na maçaneta da porta: de um lado “não perturbe”, do
outro “por favor, arrume”.
Os lares brasileiros precisam,
com urgência, colocar o sinal “não perturbe” em suas portas. Os teatros, cinemas
e museus idem. A “arte” perturbadora é um vírus como o ebola: vem dos
“macaquinhos”, pula para o homem e causa estragos.
Nos últimos anos, agendas como
ideologia de gênero e minorias LGBT têm ocupado um espaço desproporcional na
mídia. Os “artistas” abraçam estas causas, espertamente usando-as como
ferramenta de marketing e pegando carona naquilo que está dando Ibope. O
resultado tem sido uma arte excessivamente politizada que, ultimamente,
mutacionou para uma “arte” cujo único objetivo é ser perturbadora.
Nada errado com arte
perturbadora: Picasso, Paganini, Machado de Assis não são exatamente uma dose
de lexotan, mas indiscutivelmente são artistas atemporais. Também não há nada
errado com a arte que acalma os sentidos, como Monet e Simon and Garfunkel. Uma
não é melhor ou pior que a outra. Exceto no Brasil: aqui, só tem valor o que
perturba – quanto mais incômodo causar, melhor.
Exagero? Que tal a peça
“Macaquinhos”? Ou a apologia ao grafite? Ou o Queermuseu? Ou o recente episódio
da criança interagindo com um modelo nu numa mostra? Mas a “obra” que literalmente
entrou para os anais foi esta aqui: “Artistas introduzem objetos no ânus para questionar as relações da sociedade” (Será que não se cansaram de levar estocadas
dos governos petistas?)
E não para por aí. Pabllo
Vittar foi apontado por alguns veículos de mídia como o “melhor show” da
recente edição do Rock in Rio. Sério? O cidadão
fez uma participação especial de 10 minutos num show de uma Fergie decadente. Será
que a contribuição de Pabllo Vittar para um festival com mais de 50 horas de
música não foi demasiadamente exaltada
pelo fato de ele ser transgênero? Se não houvesse nada perturbador em Pabllo
Vittar seu cameo ganharia status de
protagonismo? O segundo melhor show deve ter sido o da ausente Lady Gaga.
O Brasil tornou-se um país
chato. Muito chato. Hoje em dia, antes de consumir arte, o brasileiro se pergunta qual a
orientação política do músico: “É de direita? Não quero nem ouvir!”. Não
interessa se o artista é bom compositor ou instrumentista virtuoso, pois há
outros atributos que precedem estas questões. Por outro lado, se um ator
medíocre se declarar gay, vira mito.
Freddie Mercury sempre foi um
gênio, antes e depois de se assumir gay. Ney Matogrosso é um senhor artista, e,
salvo engano, jamais revelou sua orientação sexual apesar de seu forte
componente performático – ele não precisa se valer disso, pois sobra-lhe
talento. Ninguém vai a um show de Elton John por conta de ele ser gay, o
intuito é tão somente apreciar uma lenda viva da música e suas maravilhosas
canções. Será que o jovem de hoje tem que elucubrar o que John Lennon pensaria
da Lava-jato antes de opinar sobre uma canção dos Beatles? Imagine...
Pena que no Brasil estejamos
ensinando às novas gerações que aquilo que perturba é mais salutar do que aquilo
que é “convencional” e do que aquilo que tem mérito. Aqui, o aposto tem mais
poder que o substantivo próprio: o fulano não é o “o brilhante cirurgião João” –
é o “João, cirurgião transgênero”. Nada mais sectário no curto prazo e
inconsequente no longo: o preço do incentivo torto virá com o tempo,
produziremos uma geração medíocre, cheia de apostos e sem o conteúdo necessário
para produzir progresso. É o “quem indica” com outra roupagem.
(Parênteses: o
leitor prefere fazer uma cirurgia com qual João? No fim do dia, todos convergem
para o “convencional”.)
Se a perturbação não parar
logo, será impossível “arrumar a casa” quando decidirmos virar o aviso da
porta.
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