(Por: Mariano Andrade)
“When the facts change, I change my mind. What do you do, Sir?” (John Maynard Keynes)
A gripe espanhola, que vitimou dezenas de milhões de pessoas
entre 1918 e 1919, foi um surto de influenza. Os deslocamentos de pessoas
ocorridos ao fim da I Guerra Mundial ocasionaram condições para contágio
exponencial e o resultado foi uma tragédia sanitária internacional.
Ao contrário do nome, ela não surgiu na Espanha – os países
envolvidos na guerra censuravam as matérias sobre o tema para que isso não
afetasse o moral de suas tropas. A imprensa espanhola, vez que o país não
estava envolvido no conflito, publicava notícias sobre a doença e acabou por
alertar o mundo sobre o assunto – e o nome pegou: influenza espanhola, ou gripe espanhola.
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No início da pandemia do Covid-19 (vírus originário da China,
embora isso doa em alguns), vários artigos interessantes contrapunham aspectos da
gripe espanhola a possíveis cenários do novo vírus. Alguns resultados eram bem
interessantes, por exemplo a comparação entre estados dos EUA que optaram por
lockdown em oposição aos que não optaram – na gripe espanhola, a adoção de lockdowns
em quase nada minorou o número de mortes por 1000 habitantes, mas causou uma
queda muito mais pronunciada no PIB (em comparação a estados que não
restringiram a circulação de pessoas).
Se não tivesse havido uma combinação de politização, pânico,
oportunismos jornalístico e econômico e idiotização da sociedade, claramente vários
países mundo afora poderiam ter se aproveitado melhor dos estudos sobre a gripe
espanhola para conduzir seu enfrentamento ao Covid-19.
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Quase dois anos depois de o mundo entrar em “modo pandemia”, cabe analisar a situação atual com a variante ômicron. Algumas perguntas são perfeitamente cabíveis:
Faz sentido haver multidões em filas de 2h, 3h para testar para o ômicron? Não era para evitar aglomerações? Se você tem sintomas, fique 5 dias em casa. Se não tem, para que testar? Não há como evitar contágio dessa variante: você saber que é positivo assintomático e, altruisticamente, ficar em casa, em nada vai contribuir para a sociedade – provavelmente ao ir se testar, você já transmitiu para algumas outras pessoas. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Faz sentido companhias demitirem funcionários não-vacinados?
Ou o poder público tentar “esmerdear” a vida dos cidadãos não-vacinados, como
postula o medíocre Emmanuel Macron? Se Israel, com altíssima taxa de vacinação e
já indo para a 4ª dose está numa situação de contaminação superior à dos ciclos
anteriores e ascendente (bem como outros “n” países), isso mostra que a vacina
não serve de nada como meio de contenção de contágio. Ou seja, a vacina não protege
o próximo e a decisão de se vacinar ou não deveria ser – pasmem –
individual... igualzinha à decisão de tomar ou não um medicamento qualquer ou de
realizar uma cirurgia eletiva. Para a tristeza de todos, mas em especial dos hipócritas de plantão, Freixo, Dória, Maju Coutinho e afins.
Fazem sentido as restrições de viagens internacionais? Se somente passageiros com teste negativo podem embarcar, como a ômicron saiu da África do Sul e conquistou o mundo? Como as tripulações se infectaram tanto, a ponto de haver um sem-número de voos cancelados por falta de pessoal? Lembrando que Israel até há poucos dias estava com fronteiras fechadas – de nada adiantou.
Da mesma forma, faz sentido haver um “passaporte covid” para que o cidadão entre em estabelecimentos como clubes, restaurantes, teatros, etc? Isso não protege absolutamente ninguém.
Faz sentido vacinar crianças de 5 a 11 anos, faixa etária onde a letalidade foi baixíssima nas outras variantes e provavelmente ainda menor na ômicron? Sabe-se que as vacinas têm efeitos colaterais, por exemplo miocardite. A maioria das crianças dessa idade nunca realizou exame coronariano e, portanto, os pais não sabem se têm patologia ou não.
Faz sentido uma vacina específica para a ômicron prevista para chegar ao mercado em março? Uma variante de sintomas brandos e baixa letalidade... Uma vacina cujos efeitos colaterais ainda não conhecemos...
Está na hora de a sociedade e o poder público tratarem a ômicron como uma gripe e não como a nova varíola. Existe um moral hazard grande em fazê-lo, mas o custo de continuar essa histeria é enorme – o impacto social e econômico é nefasto.
Cabe perguntar à “Ciência”, ente frequentemente evocado e
torturado ao longo dos últimos dois anos? Vejamos: os médicos relatam sintomas
leves, poucas internações (sendo a maioria delas com condições pré-existentes).
Os cientistas e médicos suspeitam que o ômicron tenha dificuldades de descer
para o pulmão, vivendo nas vias aéreas superiores do indivíduo acometido (daí
os sintomas leves), o que torna a variante mais contagiosa, porém relativamente
inofensiva.
A exemplo da gripe espanhola, a mídia segue filtrando
opiniões e quase censurando quem tentar lançar uma luz nas questões em tela e
olhar o problema de forma cartesiana...
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Os lockdowns de 2020 foram uma reação legítima à taxa de
letalidade naquele momento, à situação de esgotamento da capacidade hospitalar,
ao desconhecimento da doença, etc. Talvez tenham sido inócuos, talvez seu custo
tenha em muito superado os benefícios, mas talvez tenham sido a única reação
possível. Passados quase dois anos, temos muito mais dados e evidência
empírica, e algumas conclusões são óbvias. O mundo vai repetir o erro de
ignorar os dados?
Felizmente a Espanha parece novamente querer alertar o
mundo. Na primeira demonstração de coragem do poder público em discutir o
assunto com serenidade, as autoridades espanholas declararam que estão
preparando o país para tratar o ômicron (e quem sabe futuras variantes de baixa
letalidade) como uma gripe.
A ver qual o pacote e as modificações que virão. Mas a ideia
do governo espanhol é bem diferente da tosquice midiática da “gripezinha” que
nos envergonhou mundo afora em 2020 – aqui, trata-se de uma reação à maciça evidência empírica de que os fatos mudaram. ¿Qué
haría usted, señor?
Negacionista! 😋
ReplyDeleteIsso mesmo. E terraplanista. Você é uma figura !
DeleteÓtimo artigo, Mariano!
ReplyDeleteAbs.
Silvio Leal
Valeu, Silvio. Grande batera!
DeleteExcelente artigo. Parabéns!!! Acho que precisamos de pessoas como você entre os nossos líderes e governantes!
ReplyDeleteValeu, Tato!
DeleteVivemos tempos sombrios. A Covid vai passar, a irracionalidade já não sei.
ReplyDeletePois é. A grande lição do covid é que a humanidade desaprendeu a lidar com os problemas.
DeleteAcredito...na luz ao final do túnel! Parabens ! Vç ja viu...
ReplyDeleteA luz está aí... falta ao poder público adaptar as regras à nova realidade. Obrigado!
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