(Por: Mariano Andrade)
Atenção: a Companhia Municipal de Iluminação
abrirá 50 vagas para acendedores de postes. Não é necessária experiência prévia.
Os candidatos devem comparecer à sede da empresa. Esta notícia certamente pertenceria ao século
XVIII ou XIX, correto? Não necessariamente...
Há poucas
semanas, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro votou pela proibição da função
dupla do motorista de ônibus. Ou seja, se o prefeito sancionar o texto, será
necessária a presença de um cobrador em cada coletivo.
O leitor
pode pensar “isso é bom porque gera emprego”. No entanto, quem cai na tentação
de tecer este raciocínio não percebe que o custo do cobrador é pago por toda a
sociedade. A passagem de ônibus fica mais cara e isso afeta o custo do
vale-transporte pago pela empresas, que por seu turno repassam o encargo para o
preço de seus produtos. Portanto, quando o cidadão compra um chocolate ou um
xampu, está pagando um preço onerado pelo o custo do cobrador de ônibus.
“Mas o
município pode subsidiar a passagem”... Bem, neste caso, todos nós pagamos com
impostos maiores. Não tem jeito, assim como não há almoço de graça, não há cobrador
de ônibus de graça.
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O Brasil teima
em manter vivas certas profissões que são absolutamente anacrônicas: cobradores
de pedágio, ascensoristas, trocadores de ônibus, frentistas e outras. Num mundo
que caminha para self-driving cars,
nós precisamos de elevadores com motorista!
Em diversos
lugares do mundo, o pedágio é automatizado por fotografia (no Brasil, somente
as multas gozam de tal eficiência), os elevadores são inteligentes, e os
frentistas são opcionais. Nas metrópoles do primeiro mundo, os motoristas de
ônibus exercem também a função de cobrador e, pasmem, funciona bem!
O
parquímetro foi patenteado nos EUA na década de 1930 – desde então, evoluiu
barbaramente. Em muitas cidades americanas, os parquímetros atualmente em
funcionamento permitem pagamento com cartão de crédito ou celular e ainda alertam
por SMS quando o tempo está próximo de expirar, permitindo que o usuário adicione
mais créditos remotamente. No Brasil, muitas cidades “discordam” deste avanço
tecnológico e preferem utilizar guardadores de veículos munidos de tíquetes de papel.
Quem
defende o flanelinha, o frentista e o cobrador de ônibus pela ótica da “preservação
do emprego” pratica populismo em seu mais puro estado. O trabalhador que exerce
uma função sem qualquer valor para a sociedade impinge a todos um custo, seja
por repasse a preços e/ou por impostos mais altos. Seria preferível o estado
pagar um bom seguro-desemprego do que criar leis que protejam cargos inúteis. Não
há diferença alguma entre o poder concedente exigir que os ônibus tenham
cobradores e o estado construir e operar fábricas de TVs preto-e-branca para
diminuir o desemprego.
(Parênteses:
O argumento de que o cobrador aumenta a segurança do ônibus é absolutamente
estapafúrdio. Ou seja, se houvesse dois cobradores a segurança seria ainda
maior? Queremos resolver o problema do mau motorista colocando alguém para
contar dinheiro? Por analogia, então, o ascensorista torna o elevador sem
manutenção mais seguro.)
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O
livre-mercado sacramentou o fim dos acendedores de postes, pois a luz elétrica
mostrou-se mais eficaz – em uma economia liberal, as profissões obsoletas vão
sendo esvaziadas, algumas até a extinção. O contingente economicamente ativo
migra para novas funções que produzam mais riqueza para a sociedade, buscando
com isso rendimentos maiores para si. É a mão invisível – eis uma ideia do século
XVIII que deveríamos preservar...
No Brasil
ocorre o oposto: a insistência em manter funções obsoletas por força de lei faz
com que o país tenha um bônus
demográfico ao contrário: um sunôb demográfico . Estamos ocupando população
economicamente ativa em cargos que destróem riqueza para a sociedade. O sujeito
que tem emprego de ascensorista é um custo para todos – como já discutido – e não
tem qualquer incentivo de curto prazo para procurar outro emprego em uma função
que agregue valor. Assim como o cobrador. Assim como o frentista. Assim como o sindicalista. Assim como o suplente de parlamentar.... a lista é longa.
É a mão
visível do estado empurrando a economia para trás.
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Imagine o
leitor que um prefeito decida duplicar a quantidade de vias expressas de uma
cidade. Para tanto, as vias que antes eram divididas em duas pistas são
repintadas e passam as ter quatro pistas. Um aumento de 100% na disponibilidade de vias expressas. Depois, concluindo
que a pistas resultantes ficaram estreitas demais, a prefeitura repinta o
asfalto retornando para a configuração original de duas pistas, uma queda de
50%. Ainda assim, liquidamente, a prefeitura aumentou 50% a quilometragem de vias expressas (100%
menos 50%), certo?
Se o
raciocício acima parece esdrúxulo (ou cômico), note-se que ele é análogo a tentar crescer o
PIB empregando frentistas, ascensoristas, cobradores e atendentes de pedágio. Estamos
só pintando e repintando, sem sair do lugar.
Keynes deve
estar bastante orgulhoso do Brasil.
(Com agradecimentos ao meu colega Henrique)
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