(Por: Mariano Andrade)
”Ideas are
more powerful than guns. We would not let our enemies have guns, why should we
let them have ideas?” (Joseph Stalin)
Mandela e Lula conseguiram a façanha de se elegerem
presidentes de seus respectivos países depois de cumprirem tempo de prisão. As
semelhanças param por aí – Lula foi detido por 580 dias, Mandela ficou preso durante 27
anos. Os motivos que levaram à prisão (e à soltura) de cada um também são
absolutamente díspares.
Mas a maior distância entre o M e o L está naquilo que realizaram
após serem libertados.
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Nelson Mandela deixou a prisão em 1990, marcando o início do fim do Apartheid. Quatro anos depois, o regime segregacionista terminaria oficialmente e Mandela sairia vencedor nas eleições presidenciais de 1994. A África do Sul elegia seu primeiro governante preto (“preto” parece ser a palavra politicamente correta da vez, ao invés de "negro").
Depois de assumir o posto máximo de seu país, Mandela não
perseguiu seus opositores, não tentou se vingar dos africâners e tampouco
procurou atrapalhar a vida da população branca. Os seus 27 anos na cadeia não
criaram rancor em Nelson Mandela, como ele mesmo professou: “Resentment is like
drinking poison and then hoping it will kill your enemies.”.
Lula, por seu turno, é um homem motivado por vendeta, que destila e consome veneno. Ele mesmo declarou esse tanto em algumas oportunidades, sem qualquer auto-censura. Por exemplo, nesta ocasião: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/na-cadeia-lula-diz-que-pensava-em-f-o-moro-e-se-vingar-dessa-gente/
Lula conseguiu conduzir o “sistema” até a cassação de seu primeiro adversário, o parlamentar Deltan Dallagnol. Dallagnol foi um dos apenas 25 deputados que se elegeram com votos próprios numa Casa de 513. Mas o discurso oficial do “sistema”, incluindo daqueles que nunca tiveram um único voto sequer, é que se trata de "preservar a democracia".
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O filme “Invictus” de 2009 mostra como Nelson Mandela foi habilidoso e empenhado na missão de unir o país após 45 anos de segregacionismo. A seleção nacional de rúgbi – os “Springboks” – era um ícone do antigo regime supremacista, o capitão era um africâner e havia apenas um atleta preto. Nas partidas preparatórias para a Copa do Mundo de rúgbi de 1995, a ser sediada na África do Sul, os brancos, munidos de bandeiras do Apartheid, torciam para a seleção sul-africana, enquanto os pretos, manuseando a nova bandeira nacional, torciam para o time adversário.
O ressentimento era tanto que aliados de Mandela sugeriram trocar o nome e as cores da equipe sul-africana, seja por vingança ou para servir de troféu. Mandela, ao contrário, preferiu manter as cores e o nome do time, vislumbrando a oportunidade de a Copa do Mundo colocar o país na rota da reunificação. Mandela sugeriu que o selecionado nacional fizesse clínicas de rúgbi em escolas com maioria de alunos pretos, bem como em favelas.
Deu certo – até mais do que o previsto. Quando a competição
se iniciou, brancos e pretos torceram pela equipe nacional, todos ostentando as
cores da nova bandeira. Como em um conto de fadas, a África do Sul sagrou-se
campeã derrotando na final a favoritíssima Nova Zelândia. Mandela, vestindo um
uniforme dos Spingboks que portava nas costas o mesmo número 6 do capitão
africâner e não o do jogador preto, encarregou-se de entregar a taça, sob
aplausos de brancos e pretos – ou melhor, sob aplausos de compatriotas
sul-africanos.
O entourage de Lula, no melhor exemplo anti-Mandela, torceu publicamente contra Neymar
na Copa do Mundo de 2022. Motivo: o atleta manifestara seu apoio a outro
candidato na eleição. Detalhe: Lula já havia sido eleito quando o mundial
aconteceu, não se tratava de contrapropaganda política, mas sim de
segregacionismo e polarização. Desde os primeiros dias após a eleição, ficou patente que “o amor venceu” era uma piada de mau gosto e que o governo Lula não pretendia (e nem teria competência para) unir o país.
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Mandela conseguiu instalar a convivência pacífica entre
brancos e pretos, mesmo que isso não trouxesse garantia de redução de
desigualdades sociais. De fato, 30 anos depois de Mandela ter sido eleito, a
África do Sul figura em posição constrangedora nos rankings de desenvolvimento humano e
igualdade. Contudo, quem visita várias cidades sul-africanas consegue
facilmente perceber nas mesas de restaurantes e bares, nas praias e nas ruas que pretos e brancos
travam bom convívio social – uma enorme conquista para um país assolado por um
regime tão cruel e sectário por 45 anos, e uma condição necessária (mas não
suficiente) para que o país melhore social e economicamente.
A “sistemocracia” instalada no Brasil do L, ao contrário,
envergonha e mina instituições de Estado, rasga a carta constitucional, permite
flagrantes desvios de função nos mais altos cargos públicos e joga o Brasil na
rota da polarização e do atraso. É uma condição suficiente para que não progridamos nem social e
nem economicamente. O segregacionismo petista não é racial ou social, mas sim
político-ideológico – quem tem ideias e/ou posição política diferente é um
inimigo e deve ser abatido. Seja deputado eleito, blogueiro ou jornalista, seguindo à risca a citação stalinista que abre este artigo.
O que Mandela pensava a respeito da diversidade de ideias,
da imprensa e, por tabela, da censura? Um adesivo com a estrela vermelha para
quem adivinhar se as frases abaixo são de Lula ou de Mandela...
“A critical, independent and investigative press is the lifeblood of any democracy. The press must be free from state interference. It must have the economic strength to stand up to the blandishments of government officials. It must have sufficient independence from vested interests to be bold and inquiring without fear or favour. It must enjoy the protection of the constitution, so that it can protect our rights as citizens.”
“I like friends who have independent minds because they tend to make you see problems from all angles.”
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Embora o “amor tenha vencido” no Brasil, o ódio contra a
iniciativa privada se manifesta a cada dia do novo governo. Seja na tentativa
de retrocesso no marco do saneamento, seja no apetite em arrochar ainda mais a
tributação, seja no ímpeto de vilipendiar o empresário, ou, finalmente, na
nefasta ideia de reverter privatizações.
Mandela assumiu um país onde, por razões óbvias, os brancos
tinham mais posses do que os pretos. O que ele pensava a respeito da iniciativa
privada e do lucro? Para quem não ganhou a estrelinha na primeira tentativa,
segue nova chance...
“Money won't create success, the freedom to make it will.”
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O L e o M são vizinhos no alfabeto. Mas, em termos de
contribuição histórica, inspiração e exemplo, são mais distantes do que o A e o
Z.
Excelente como sempre! Marian, eu acho que o Contraponto merece dar uma olhada nessa plataforma aqui: https://substack.com/
ReplyDeleteRocha, vou te passar a gestão do c-ponto.
DeleteMuito bom. Gosto muito de seus textos.
ReplyDeleteObrigado, Paulo. Boa sorte!
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