(Por: Mariano Andrade)
“You can fool some of the people all of the time, and all of the people some of the time, but you cannot fool all of the people all of the time.” (Abraham Lincoln)
No futebol profissional de hoje, após a introdução do VAR, a
maior burrice que um jogador pode fazer é simular grosseiramente pênaltis ou
agressões. Os estádios são munidos de várias câmeras que capturam os lances de
diversos ângulos distintos e a probabilidade de a encenação ser desmascarada é
quase 100%, sendo que o atleta, além de desperdiçar o lance, poderá ser punido com cartão amarelo ou expulsão,
dependendo do caso.
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Esta semana, o Brasil recebeu o presidente venezuelano
Nicolás Maduro para um encontro de integração de líderes sul-americanos. Já
seria discutível dar boas-vindas a Maduro (ou mesmo qualificá-lo como "líder"), mesmo se tratando de um evento reunindo
governantes da região. Mas pior ainda foi tê-lo acolhido com pompa e
circunstância, continência militar e outras regalias.
Receber um ditador com altas honrarias e com tom
celebratório parecia o fundo do poço, mas não foi, graças a Lula. Num discurso
absolutamente infeliz, Lula destacou que há uma disseminação da “narrativa” que
demoniza a Venezuela e o regime de Maduro, e que dita narrativa tornou-se
popular, inclusive entre pessoas “que nem sabem onde é a Venezuela”. E, para
arrematar, recomendou a Maduro que ele criasse sua própria versão.
O descalabro de Lula foi criticado por diversos políticos
brasileiros, alguns até de sua própria base. Mesmo jornalistas da imprensa
marrom não conseguiram se calar perante os absurdos sugeridos por Lula. O
presidente do Uruguai rechaçou a versão de Lula, bem como o esquerdista Boric,
presidente do Chile – “não podemos fazer vista grossa para temas e princípios
que são importantes (...) a situação dos direitos humanos na Venezuela não é
uma construção narrativa.”.
https://www.metropoles.com/brasil/apos-lacalle-pou-boric-do-chile-condena-fala-de-lula-sobre-maduro
Lula não capturou o fato de que hoje há VAR para as pessoas
públicas, chamam-se redes sociais. Ou, então, entendeu muito bem e por isso mesmo
quer cerceá-las. Até que consiga (tomara que não), deveria aceitar o fato de
que simulações grosseiras serão denunciadas – tudo o que se faz e se fala
publicamente está acessível nas redes sociais – os tão temidos fatos. E, contra
fatos, não há argumentos, muito menos narrativas.
Maduro (e seu mentor Chávez) levaram a Venezuela da posição
de maior renda per capita do continente para um país de miseráveis. A Venezuela
ostenta a maior inflação do mundo. O regime de Maduro prende, tortura e mata
oponentes. O VAR mostra cenas de blindados atropelando protestantes, de pessoas
disputando comida em supermercados, de milhares de pessoas fugindo da Venezuela
e deixando tudo para trás. Enquanto isso, Maduro circula por restaurantes
chiques no jet-set internacional, sempre bem vestido, bem alimentado e
portando relógios que custam verdadeiras fortunas. O VAR mostra tudo isso de
vários ângulos.
Muito países acusam Maduro de fraude eleitoral e não o
reconhecem como legítimo. Ainda fica pior: diversos membros da comunidade
internacional entendem que o regime de Maduro está ligado ao narcotráfico. Os
EUA, por exemplo, têm um mandado de prisão contra Maduro e oferece até 15
milhões de dólares para quem ajudar em sua captura.
Assassinatos não são narrativas. Pobreza não é narrativa. Dissolver o parlamento não é narrativa. Mudar a constituição não é narrativa. Contingente de 20% da população refugiada não é narrativa. Tudo isso são fatos, tem VAR para mostrar.
Lula, ele sim, tenta iludir as pessoas com a sua risível “meta-narrativa”
sobre Maduro. Esse é Lula, um homem que tenta enganar todo mundo o tempo todo –
ora com a narrativa de que não roubou, ora distorcendo números e conquistas de
seus primeiros governos, ora culpando a “herança maldita” do governo anterior. Como
preconizou Abraham Lincoln, alguma hora esse modus operandi falha, e
parece que essa hora chegou para Lula – o país e o mundo estão assistindo.
Não se trata de um debate ideológico esquerda x direita. Se Maduro
é uma narrativa, por que Pol Pot não é? Por que Hitler não é? O fato é que Pol
Pot exterminou um terço de seus compatriotas. A verdade é que o regime nazista de
Hitler cometeu diversos crimes contra a humanidade e assassinou milhões de judeus,
negros, ciganos e prisioneiros de guerra. São fatos e pronto: as covas coletivas
do Cambodja e o campo de concentração de Auschwitz são reais.
Para sacramentar a discussão, segue o VAR de um autor bastante inusitado, nosso ilustre vice-presidente Geraldo Alckmin. Divirtam-se: https://www.youtube.com/watch?v=ocJsaM2iUSI&t=1s
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Mas será que Lula é tão burro quanto o atleta que se joga
clamorosamente para tentar cavar um pênalti? Talvez sim. Ou, quem sabe, o problema
de Lula possa ser sua vaidade e sua desonestidade (quem diria?) intelectual.
Atavicamente, Lula defendeu Hugo Chávez e seu sucessor Maduro, dando-lhes o
rótulo de “esperança para o continente”. Faltam a Lula humildade e honestidade
intelectual (ou de qualquer sorte) para admitir que tomou posição errada.
Sentindo que a janela para mudar de discurso já passou há muito, Lula agora
tenta recorrer à prestidigitação – mas seus truques não colam mais, já estão
manjados.
Maduro, por seu turno, ignora solenemente o VAR, como dono da bola que é em seu país. Mal-acostumado, também o faz em jogos fora de casa. Ao sair de um compromisso no Palácio do Itamaraty, seus seguranças agrediram jornalistas que tentavam entrevistar Maduro. Habituado a fazer, rasgar e reescrever as regras a seu bel-prazer, Maduro pouco se importava com os vários ângulos que capturavam a sua louvável postura democrática.
Palmas para Gabeira, um homem que consegue evoluir e atualizar suas ideias. Palmas para Boric, governante que consegue colocar fatos antes de orientação política. Palmas para Camarotti e Guga Chacra que, apesar de trabalharem para a imprensa oficial, deram a Maduro sua correta qualificação: “um ditador”. Cartão vermelho para Lula e Maduro, dois ridículos tiranos da América Católica.
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