(Por: Mariano Andrade)
“Let your winners run” (máxima do mercado financeiro)
“You see this? A nickel! I quit. I open my own hotel.” (cena do filme Eurotrip, de 2004)
O escritor
Malcolm Gladwell tem uma habilidade ímpar de construir uma hipótese central
(por vezes não-intuitiva) e conectar evidências empíricas variadas e
inesperadas para “demonstrar” o conceito-mestre. Livros como “Blink”,
“Outliers” e “Davi e Golias” são verdadeiros deleites para o leitor que procura
obras de não-ficção que ajudem a compreender o porquê de certas coisas
funcionarem da maneira particular que funcionam.
O primeiro
livro de Gladwell, “Tipping Point – Como pequenas coisas podem fazer uma
grande diferença”, publicado em 2000, estudou como surgem as epidemias sociais.
Por que a criminalidade em NY despencou nos anos 90? Por que os sapatos Hush
Puppies mais do que quadruplicaram as vendas entre 1994 e 1996? Por que a série
“Blue Clues” foi um enorme sucesso entre as crianças? A leitura é bastante recomendada.
Seu novo
livro “The Revenge of the Tipping Point”, publicado quase 25 anos
depois, debruça-se, dentre outros fenômenos, sobre como certas engenharias
sociais podem ser detratoras para o bem-estar, uma das facetas da tal
“vingança”. O texto reforça a ideia de que algumas pequenas coisas merecem
muita atenção, pois seu efeito pode ser determinante para atingir o ponto de
desequilíbrio.
(Nota:
Gladwell não é uma unanimidade. A principal crítica ao seu trabalho é que,
sendo um mestre das justaposições, ele promove narrativas engenhosas, mas que
não resistem a testes cientificamente mais rigorosos. Não por acaso as aspas
acima em “demonstrar”.)
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O PT, na
sua trajetória de gastança incontrolável, certamente já frustrou o mercado
sobre qualquer possibilidade de disciplina fiscal neste governo. Não só o
arcabouço desenhado pela equipe de Fernando Haddad nasceu muito frágil, mas os
puxadinhos de despesas “por fora” e a necessidade de descobrir novas maneiras
de tributar quem produz para fechar a conta levaram ao descrédito generalizado.
Não por acaso as taxas de juros explodiram, bem como o dólar.
Na sua
criatividade anacrônica, ignorante, inepta ou mal-intencionada, o PT recicla vários
balões de ensaio nefastos. Uma miríade de conceitos e ideias que jamais deram
certo. Uma dessas vertentes pode ser a proverbial pequena mudança que fará uma
enorme diferença... para pior. Trata-se do imposto dos ricos, ou imposto sobre
o patrimônio, ou imposto sobre milionários, ou mesmo bilionários – qualquer que
seja o nome ou apelido, a ideia é comprovadamente péssima. Esse tipo de
tributação foi implementado em vários países europeus que, posteriormente,
voltaram atrás por conta de maus resultados. É a vingança da curva de Laffer –
aumenta o apetite arrecadatório e cai a receita – neste caso porque
simplesmente os mais ricos se mandam, vão embora viver em outro país com
impostos mais brandos. Aliás, o Brasil já é um dos países que mais exportam milionários,
quem produz não quer ficar aqui. O governo pretende que esse movimento vire uma
epidemia?
Mas o que
esperar do PT e de Haddad senão repetir tudo o que já deu errado mundo e
História afora? Haddad parece acreditar que, se o PT tributar todo mundo em
100%, as pessoas continuarão a trabalhar e produzir ao invés de irem para a
praia. Ou seja, o ministro pensa que seria salutar o estado ser 100% da
economia, vez que atingir-se-ia um maior bem-estar coletivo. Tipo Cuba e Coréia
do Norte.
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Segundo
Gladwell, o primeiro elemento das epidemias sociais é explicado pela “law of
the few” (“lei dos poucos”, tradução livre). Ele postula que há pessoas
únicas e especiais, capazes de conectar milhares de nós de uma rede complexa de
relações pessoais, de processar/estocar informação de mercado ou de persuadir
outros a testar produtos/serviços novos. Estes indivíduos são fundamentais para
começar uma tendência que pode – a depender de outros dois fatores – viralizar.
Fazendo um
paralelo com o insight de Gladwell, os bilionários são – por definição –
provenientes da “lei dos poucos”. Não há muitos deles (em percentual da
população), o que pode ser explicado de diversas maneiras, duas das quais sendo
diametralmente opostas. Em um extremo é a ideia positivista de que as pessoas
são diferentes e poucas têm tino, estômago e disposição para empreender grande
– e, pior, somente um subconjunto desses “poucos” (afinal, a maioria das
empreitadas de risco falha) realmente tem um sucesso exponencial que poderá
levar ao status de bilionário.
A segunda
hipótese, olhando o como meio vazio, seria algo similar ao que Nassim Taleb
descreve como um “gerador aleatório”. De uma infinidade de pessoas que testam
modelos de negócios e empreendem, sempre haverá outliers positivos (e,
segundo Taleb, nem sempre com mérito e sim sortudos pelo acaso). O importante,
nesse caso, é deixar o modelo rodar com muitas e muitas iterações para que se
obtenham bilionários.
Seja qual
for o processo pelo qual surgem os bilionários, há uma verdade que não muda: os
bilionários em geral produzem grandes benefícios para seus stakeholders
(clientes, credores, acionistas minoritários, funcionários, fornecedores, etc)
e geram enorme riqueza e bem-estar para a sociedade como um todo. Eles são um
subproduto inescapável de uma economia próspera e bem-sucedida.
Dito de
outra forma: não há como duas economias terem o mesmo sucesso se uma delas veda
a existência de bilionários. Esta restrição custará a todos, sob forma de
crescimento e inovação mais lentos, ou simplesmente de estagnação e involução
econômica.
Uma
ilustração simples – o leitor investiria num fundo de ações cujo gestor tivesse
a política de se desfazer de qualquer papel que tenha apreciado mais do que
50%? O stop-gain, que obviamente, não funciona na gestão de portfólios,
também não funciona na economia. “Let your winners run” é a velha máxima
de mercado que Fernando Haddad não aprendeu com a “meninada”.
**
As outras
duas forças por trás das epidemias sociais, segundo Gladwell, são “o fator stickiness”
e “o poder do contexto”. É ainda mais simples demonstrar que elas estarão
inequivocadamente presentes caso o PT vá adiante com o imposto dos ricos.
Poucas
coisas são mais “sticky” do que impostos: uma vez implementados, é
difícil voltar atrás pois nenhum governo gosta de renunciar a receitas,
especialmente num sistema pluripartidário repleto de políticos populistas como
no Brasil. E, para completar, o “poder do contexto” será simplesmente a
aceleração da emigração de ricos, motivando um contágio crescente à medida que
virmos pessoas de nosso convívio entregando suas declarações de saída.
Teremos os
três vetores das epidemias sociais no framework de Malcolm Gladwell. Tip,
tip, tip.
(Claro que há
fricção e inércia no sistema... A decisão não é puramente econômica, há vínculos
familiares e outros fatores. Mas o resultado de empobrecimento se mantém.)
**
A
tributação adicional de ricos falha qualquer que seja o processo pelo qual
surgem os bilionários, seja pela “lei dos poucos” ou pelo estoicismo de Taleb,
ou mesmo por uma verdade intermediária. Se o estado passa a tributar
desproporcionalmente aqueles que atingem estrondoso sucesso financeiro por
terem tomado riscos enormes, simplesmente menos pessoas toparão empreender.
Haverá menos inovação, menos crescimento, menos emprego, menos eficiência, no
fim da linha uma estagnação crônica.
Da mesma
forma, se o sucesso for aleatório, a existência de uma tributação assimétrica
impedirá o “gerador aleatório” de rodar infinitas vezes de forma a produzir outliers.
A economia sofre da mesma maneira.
(E tudo
fica pior no Brasil – se o sujeito empreende e não é bem-sucedido, a Justiça do
Trabalho o assombrará por décadas a fio.)
Fernando
Haddad já declarou que os herdeiros de bilionários não precisam daquela
quantidade de dinheiro. E que o estado tem o dever de se apropriar dos
recursos excedentes para estimular esses herdeiros a produzirem. Caso
contrário, os herdeiros serão “parasitas”. Isso mesmo, parasitas, dane-se a
vontade do dono do patrimônio. (Logo ele que nunca trabalhou, tal qual seu
chefe. Aliás, para onde vai a fortuna de Lula quando ele finalmente se for?)
https://www.instagram.com/tome_abduch/reel/Czvja5zOgdb/
Qualquer um
que pensar um pouco sobre isso verá que é um raciocínio esdrúxulo e
curtoprazista.
Vejamos:
imaginem que se defina R$ 1 bilhão como a máxima herança que pode ser
distribuída aos sucessores, sendo que o estado se apropria do sobejo. O que
aconteceria na prática? Não teríamos Jeff Bezos, Bill Gates, Elon Musk, Mark
Zuckerberg e nenhuma das inovações, empregos e bem-estar que suas empresas
geraram depois que eles superaram R$ 1 bilhão de patrimônio (ou até menos, se
assumirmos o valor do dinheiro no tempo). Simplesmente, eles parariam de
produzir e a economia cresceria muito mais devagar do que poderia.
Em resumo,
o PT postula ir contra a “lei dos poucos” em prol da igualdade social e de
“incluir o pobre no orçamento e o rico na tributação”, um discurso Robin Hood bem
fajuto. A falácia da igualdade social, por definição, implica em um race
to the bottom, i.e. nivelar por baixo. Uma simples simulação é capaz de
demonstrar: destarte, o estado passa a se apropriar de tudo o que exceder R$ 1
bilhão. Em algum tempo, não existirão novos bilionários para abastecer a
gastança e o estado precisará descer o sarrafo, digamos para R$ 500 milhões. Em
mais algum tempo, não haverá nenhum novo rico com R$ 500 milhões, e o novo
patamar será mais baixo, talvez R$ 200 milhões. Repetindo o processo ad
infinitum, cada vez os considerados “ricos” são menos ricos por construção,
e toda a sociedade converge para a não-criação de riqueza. Os bilionários de
hoje serão os durangos de amanhã. A cena da comédia Eurotrip dá uma ideia. (Nota:
nós, poupadores em reais, seremos o garçom da cena, e não os comensais)
https://www.youtube.com/watch?v=FvRn0rF687E
Num momento
em que os autores de “Why nations fail?” recebem o Prêmio Nobel de
Economia, o Brasil tenta falhar como nação pela enésima vez. Enquanto isso,
nações que importam bilionários ou os “fabricam” dentro de casa prosperam como
nunca. O PT tenta reinventar a roda da responsabilidade fiscal penalizando
aqueles que tomam risco e inovam e que, ao fim e ao cabo, contribuem para
aumentar a eficiência dos fatores produtivos (e, pasmem, pagam um monte de
impostos no processo). Corte de gastos de verdade? Sanear estatais? Diminuir
programas de transferência de renda para investir em educação básica? Nem
pensar.
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Esta
tributação de bilionários, ou imposto de super-ricos, ou alíquota-extra para
quem ganha mais do que “x” ou qualquer coisa do tipo é apenas mais uma das
péssimas ideias deste governo e da esquerda em geral. Está na hora de o setor
financeiro, os economistas de renome que apoiaram Lula e os diversos
bilionários que têm respaldo e voz de chamarem a atenção para a barbaridade da
gestão Haddad/Lula. “Ah, mas seria pior com Mantega”, diriam alguns. E daí? Não
é possível passar pano para ideias tão ruins. O que é idiotice tem que ser tachado
de idiotice, senão seremos todos taxados Haddad nauseam. O país
está envelhecendo e não pode ser refém de ideias velhas e mal-sucedidas.
Ou, então,
seremos prato cheio para um futuro livro de Malcom Gladwell. Ou para o apêndice
de uma edição revisada de “Why nations fail?”. Ou piada de filme de
comédia adolescente. Ou tudo isso junto... Será a vingança do PT contra “as
elites”, muito bem capturada pela imagem abaixo.
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