(Por: Mariano Andrade)
Os liberais
advogam, há muito, que o estado deve se preocupar com educação, saúde e
segurança; e que todo o resto deve ser privatizado. Em geral, quando isso é bem
feito, funciona lindamente: o estado torna-se menor e, com menos impostos,
consegue prestar serviços melhores. Concomitantemente, a iniciativa privada
imprime bom funcionamento em outros serviços, tais como aeroportos, zoológicos,
etc.
Mas nosso
prefeito-pastor Crivella e seus apóstolos lograram o incrível feito de piorar
certos serviços públicos após privatizá-los: um milagre!
Crivella e
seu séquito licitaram a operação de certas ilhas de estacionamente em alguns pontos
da cidade. Estes locais eram antes atendidos pelos vaga-certas (ou flanelinhas,
como alguns chamam), cuja função era apenas coletar R$ 2 do motorista e anotar
a placa do carro e o horário de chegada num tíquete.
Não há
dúvida de que o vaga-certa é um sistema arcaico, um emprego de mão-de-obra
keynesiano que gera valor zero ou negativo para a sociedade. Um parquímetro dos
anos 60 funcionaria melhor. Ou, sonhando mais alto, por que não utilizar uma
máquina com terminal de cartão de crédito e conectada a aplicativo de celular que
permitiria ao usuário adicionar mais tempo de uso da vaga quando desejasse?
A boa-nova
é que Crivella – ao licitar as áreas – conseguiu ocupar mais gente! Que bênção
maravilhosa: menos gente desempregada, mais lares com providência, mais riqueza
na cidade... Uma dádiva!
Mas não é
bem assim que termina a parábola, infelizmente. Algumas empresas agraciadas com
a concessão empregam cinco ou seis boletadores onde antes havia um ou dois
flanelinhas. O pecado desse novo sistema é um estacionamento que custa múltiplas
vezes mais para o usuário. Exemplo: uma família que antes passava três horas Parque
dos Patins na Lagoa pagando R$ 2 de estacionamento, agora tem que desembolsar
R$ 6 por hora, totalizando dízimo de R$ 18. Traduzindo: a família é onerada com
seu quinhão do salário de uma mão-de-obra inútil, o que encarece o custo de
lazer, diminui o tráfego de pessoas no parque e causa queda nas vendas de
águas, sucos, sanduíches e picolés nos quiosques, diminuindo a renda de todo o
ecossistema.
Menos mau seria se ao menos o novo estacionamento funcionasse bem. Mas o sistema idiótico
de usar tecnologia matusalênica e cobrar por tempo de permanência significa o
seguinte: quando chove e todo mundo corre para seus carros, a fila de cobrança
na saída fica engargalada. Será que nenhum dos apóstolos teve essa visão divina
ao conceder a licitação? Precisa-se de
um profeta na prefeitura.
E quando
houver uma emergência médica e portanto a necessidade de um carro sair às
pressas? Será que a fila se abrirá como o Mar Vermelho? É bom os cariocas portarem
seus cajados mágicos em seus carros.
Com certeza, João Dória fará melhor.
A licitação
desastrada das áreas de estacionamento é apenas um capítulo do evangelho
segundo Marcelo. Uma danação para a cidade e para os cariocas que precisarão
de uma paciência de Jó para aguentar esse infeliz por mais três anos. Deus nos
acuda...
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