"Deu merdas tour"

 (Por: Mariano Andrade)

“Incompetence is the true crisis” (Albert Einstein)

 

Albert Einstein esteve no Brasil em 1925, na ocasião já um cientista consagrado e agraciado com o Prêmio Nobel de Física. Nos diários de sua viagem à América do Sul, a respeito da visita ao Rio de Janeiro, ele registrou incômodo com o calor, com o excessivo barulho das ruas e com a bajulação dos políticos.

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Taylor Swift recentemente esteve no Rio de Janeiro com sua “The eras tour”. Como seria o diário de viagem da cantora nas páginas dedicadas à “cidade maravilhosa”? Podemos imaginar...

“Cruel summer. Que calor! Se bem que ainda nem é verão... Mas como vou fazer um show nessa temperatura? Será que nenhum mastermind na minha equipe pensou em adiar o show mais cedo ou acharam que teria snow on the beach ao entardecer?”

 

Pois é, Taylor. Não neva na praia, pelo menos nessas terras. Então, com as os fãs já a postos no gramado, tendo esperado longas horas, tendo vindo de outras cidades, tendo se deslocado até o estádio, adiar o show faltando uma hora para o início da atração de abertura foi um tremendo desrespeito. As pessoas não estavam apenas a thirteen blocks de suas casas. Será que depois, já no seu confortável quarto de hotel, você se deu conta, pensou em seus fãs e exclamou “I forgot that you existed”?

Mas se os erros tivessem parado por aí, tudo bem. Um baita prejuízo para aqueles que não puderam ir ao show remarcado, ainda assim all too well. Infelizmente, a passagem de Taylor pelo Rio não ficará marcada apenas por perdas materiais e três megaproduções para os fãs mais afortunados: está manchada por ter escancarado a incompetência que impera no Brasil. A conta: duas mortes.

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A baderna começou bem antes de Taylor chegar. As filas virtuais para a venda de ingressos mal atingiam a posição 1000, sendo que havia um máximo de 4 ingressos por compra. Com 60.000 ingressos por show à venda, claramente essa conta não fecha. A matemática é tão simples que, pela primeira vez na sua história, o PSOL deu uma bola dentro – duas deputadas psolistas levantaram a bola de que o sistema privilegiava cambistas e propuseram a “lei Taylor Swift” para criminalizar venda ilegal de ingressos. Daqui a 100 anos o PSOL vai acertar outra. 

Com Taylor já a postos no Rio, o calor extremo que fez na sexta-feira 17/11, data do primeiro show, realmente submeteu os fãs a condições perigosas. Não passou pela cabeça dos organizadores da turnê, da equipe da artista, do prefeito da cidade, ou dos poderes estadual e federal, que seria necessário fornecer hidratação ao público? Uma jovem perdeu a vida pela apatia, indiferença, inconsequência e inépcia dos envolvidos, todos sintomas da incompetência.

No dia seguinte, o show foi adiado pelas altas temperaturas que persistiram, mas a trupe de incompetentes deixou para fazê-lo absolutamente em cima da hora. Call it what you want, irresponsabilidade, desrespeito, burrice – tudo converge na incompetência.

A despeito da tragédia do dia anterior e no auge da bagunça do dia 18/11, o prefeito Eduardo Paes deu-se ao trabalho de ir às redes para pedir que as pessoas ficassem “tranquilas” porque o show aconteceria dois dias depois. Dudu, tomara que, na sua próxima viagem ao exterior, seu vôo atrase dois dias, você tenha que ficar em pé por 8 horas para conseguir alguma informação, o ar condicionado do aeroporto pife, você tenha que dormir na cadeira do saguão e o CEO da companhia aérea te mande uma mensagem com um sorriso cínico no rosto pedindo “tranquilidade”, afinal “em apenas dois dias você estará a caminho de casa”. Stupid boy.

Nesse fatídico sábado, não houve show mas houve morte. Um jovem mato-grossense que, de outra forma estaria curtindo o espetáculo, passeava pela praia de Copacabana à noite e foi esfaqueado 23 vezes, death by a thousand cuts. O assassino havia sido preso dias antes, mas nosso honorável poder judiciário o soltou. Einstein estava correto – incompetência é a verdadeira crise, e ela leva à morte.

Na família desses jovens, sempre haverá um blank space.

Irreplaceable.

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A tragédia continuou. Longe do show do dia 20/11 no Rio, mas retratando o fracasso brasileiro, um preso político, detido ilegalmente e contrariando diversos apelos médicos, faleceu na penitenciária da Papuda no Distrito Federal. A morte de Cleriston da Cunha é resultado do autoritarismo do STF, da omissão dos senadores e da incompetência dos eleitores brasileiros. Sem muito risco de errar, poderíamos olhar nos olhos dos indivíduos de cada um desses grupos e constatar: “you’re not sorry”. Nem os prevaricadores juízes (false gods) e senadores, tampouco os eleitores idiotas: a turma não se arrepende de suas ações, de sua inação ou de seu voto... todos diriam “don’t blame me”!

No dia 21/11, não teve Taylor, mas teve Brasil x Argentina no Maracanã, partida válida pelas eliminatórias do mundial de 2026. Cerca de 65 mil pessoas foram ao estádio para ver Messi ou para torcer pelo péssimo selecionado brasileiro. Os organizadores, mais uma vez provando a máxima de Einstein, deixaram setores mistos no estádio: isto é, brasileiros e argentinos lado a lado num jogo de futebol. Sparks fly, bastou que os brasileiros vaiassem o hino nacional argentino e o fogo se espalhou. Pancadaria, confusão, crianças acuadas e chorando. Felizmente, desta vez a incompetência não custou vidas.

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Taylor, deu merda geral e ficou patente que o Rio “já era” (e a sátira "já era tour" virou meme no primeiro dia da bagunça)... não volte, pois não temos condições de sediar nenhum evento para mais de 100 pessoas.

No mais, fica claro que não precisamos da  nova duplinha Freixo e Paes tocando a “gestão” do Rio de Janeiro. O judiciário, de cabo a rabo, já deu a chancela para o Rio ser uma cidade sem lei: os bandidos estão soltos e assim ficarão, alguns deles no comando. De vez em quando, um representante do governo federal vai passar por aqui para checar se o crime está operando dentro dos conformes. Não precisamos de Freixo pedindo o fim da polícia militar ou a soltura de presos, isso já está rolando sem a contribuição dele. Tampouco precisamos da cara-de-pau do inepto Dudu, o “soldado do Lula” e autor de posts ridículos. Já estamos entregues. Partiu Maricá!

As críticas de Einstein foram baratas. Sad beautiful tragic.

 

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