(Por: Mariano Andrade)
Passado um
mês do início do Rock In Rio 2015, vale uma reflexão sobre esta última edição.
O show do
Queen, um dos mais rápidos a ter ingressos esgotados, mostrou que os
dinossauros estão vivos. Não é necessário – nas próximas edições – que a
organização repita os convites a Metallica, Slipknot, Iron Maiden, Katy Perry e
outras figurinhas fáceis por aqui. O Queen mostrou que a música pode vencer o
marketing, assim como Bruce Springsteen o fez na edição anterior. Então, quem
sabe, possamos ver mais rock e menos Ibope no palco mundo.
Esta edição
reacende um antigo debate que acompanha o festival desde a edição de 1991 – a
condição de supporting act imposta aos
artistas brasileiros. Qual é o sentido de Lulu Santos, nosso maior hitmaker, ter apenas uma hora de show?
Não é tempo suficiente nem para a metade das canções que o público sabe de cor.
Ou relegar o Angra – referência mundial em heavy metal melódico – ao palco
sunset e escalar as irrelevantes Gojira ou Royal Blood para o palco mundo? Se o
guitarrista brasileiro Kiko Loureiro vier com o grupo americano Megadeth em
2017, pode dar um nó na cabeça dos organizadores...
No quesito
logística, parece que ninguém pensou em nada. Fazer fila para pagar
comida/bebida e depois entrar em outra fila para pegar o pedido? Fala sério! Custava
instalar quiosques onde o visitante pudesse comprar créditos com seu cartão
bancário e depois utilizar para qualquer consumo? Isso facilitaria sobremaneira
a logística do atendimento, minimizando as filas. Mas aí não seria Rock In Rio,
pois brasileiro adora uma fila, adora uma ineficiência – deve ser por isso.
Fechar as
ruas nas imediações? Isso é um acinte, fere o direito de ir e vir dos cidadãos.
Pergunta: A cidade-sede do Superbowl fecha as ruas? E o local da final da
Champion’s League? E por aí vai. Por que o privilégio do Rock in Rio?
Seria o
famoso “criar dificuldade para vender facilidade”? Neste caso, a facilidade era
o ônibus “primeira classe”, que não passava de uma lata-velha nem mesmo
equipada com banheiro. Por que não exigir do festival a disponibilização de retroárea
para estacionamento de dez mil carros e espera de dois mil táxis? Não cabe?
Então que o número de ingressos fosse reduzido para compatibilizar escalas de
público e de infraestrutura.
E, em se
tratando de um evento para mais de 500 mil pessoas, não é razoável exigir que a
organização instale banheiros de verdade com ligação na rede de esgoto? Isso se
houver rede de esgoto ali no coração da “cidade olímpica...
Mas, sem
dúvida, a grande decepção do evento foi a omissão dos artistas brasileiros
diante da cleptocracia que assola o Brasil. Onde estão os politizados artistas
que, em 1985, subiram ao palco pedindo eleições diretas? Ou aqueles que em
várias oportunidades aproveitaram sua exposição para apoiar rasgadamente o PT? Apagou-se
a chama política?
Festivais
de rock têm em sua gênese as ideias de congregar e protestar, vide Woodstock e
a guerra do Vietnã. Neste Rock In Rio, o protesto máximo que se viu foi Roger usando
uma camisa que dizia o óbvio (“não sabemos escolher presidente”) e João Barone
abrindo a execução de “Que país é esse?” com o brado de que “o Brasil pode dar
certo”. Pode mesmo? Com essa turma que está aí? Com esse tipo de conformismo?
Com essas oportunidades perdidas de expor a roubalheira que vigora no país
diante de milhares de expectadores?
Dinho Ouro
Preto, na edição de 2013, fez um discurso direcionado à classe política pelo
seu tétrico “conjunto da obra”. Foi de improviso e pouco eloquente, mas emendou
colocando um nariz de palhaço e anunciando a canção “Saquear Brasília” – marcou
presença e deu o recado. A julgar pelo silêncio dos artistas este ano,
conclui-se que a situação do país melhorou bastante nestes dois anos ou que
faltou escalar Fábio Júnior no line-up.
A continuar
o governo do PT, a edição de 2017 será Rock In Hell... “Se a república
começasse agora, se o Brasil fosse nosso outra vez...”
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