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(Por: Mariano Andrade)

“Do pó vieste e ao pó retornarás” (Gênesis, 3:19)


Aécio Neves deve sentir-se vivendo numa montanha-russa – em menos de 3 anos passou de quase-presidente a réu no STF. Merece mesmo voltar ao pó: foi gravado em negociatas inaceitáveis onde, inclusive, insinua que poderia matar seu primo. Que faça boa companhia a Lula na prisão e que inaugure uma longa temporada de condenações no STF.

A derrocada de Aécio, no entanto, pode ser o início do fim do PSDB. Oxalá! Trata-se de um partido que, repetidamente, prestou um desserviço à nação.

No governo FHC, a foto parecia boa com pretensa responsabilidade fiscal. Ocorre que a equipe de FHC criou uma máquina de arrecadação, aumentou a carga tributária em cerca de 5 pontos percentuais do PIB, onerou a atividade empresarial e viciou o estado em lidar com questões orçamentárias sempre aumentando tributos. A foto virou um filme ruim, sem nenhuma cena de corte de despesas. E o filme foi ficando ainda pior...

FHC, do alto de sua infindável vaidade e buscando passar para a História como o grande estadista que transmitiu o poder para um partido proletário, abandonou José Serra aos leões na campanha de 2002 e entregou o planalto de bandeja para Lula. Na posse de Lula em 2003, FHC era o rosto mais radiante. Após ter criado uma máquina de coletar impostos, FHC entregou a vaca leiteira ao PT. Entregou o ouro pros bandidos, sem qualquer metáfora aqui.

Passado o bastão, no início do governo Lula houve o estouro do mensalão. A “estratégia” do PSDB foi “deixar Lula fritar”. Este grosseiro erro de cálculo terá mais destaque na História do que FHC, pois custou ao Brasil o maior esquema de corrupção da História contemporânea, a crise de Dilma e o desemprego galopante que abateu várias famílias. O PSDB tem sua parte de culpa em todas as mazelas do sombrio período lulopetista.

Ultimamente, o PSDB tem dado mostras de que é uma instituição carcomida, obsoleta, desprezível, inútil. João Dória, a grande promessa de renovação na gestão pública, repetiu o modus operandi de José Serra e descumpriu seu compromisso público de terminar o mandato municipal. Com isso, perde o status de outsider, já tendo sido cooptado pelo jogo da velha política (uma pena!). FHC fez afagos a Luciano Huck e outros presidenciáveis, mesmo quando seu partido já tinha um candidato próprio (Em tempo: em que espécie de país um boboca como Huck é presidenciável? Nosso sarrafo é tão baixinho assim, com trocadilho?). A cúpula do partido perdeu a oportunidade de expulsar de seus quadros Aécio Neves e dar um exemplo à classe política, preferindo a fisiologia.

E, no meio disso tudo, o partido mostrou seu descaso com o futuro do Brasil ao não fechar questão sobre o voto da reforma da previdência que Rodrigo Maia tentou pautar em dezembro de 2017. Em lugar disso, o partido publicou um manifesto ridículo e extemporâneo onde clamou por um estado “musculoso” – não deviam se ofender quando são chamados de fascistas, pois o estado-protagonista é justamente o cerne do fascismo (ou seja, são tão fascistas quanto PSOL, PCB, e outros detritos do século XX).

A aposta do PSDB em lançar Dória à campanha do governo de São Paulo é arriscada. Dória, por mais competente que seja (e é!), tocou a prefeitura por um ano apenas. Muitas de suas metas precisariam de mais tempo para conclusão, de modo que sua candidatura está exposta a ataques frontais e cartesianos – 
inexoravelmente, sua candidatura terá enorme rejeição. Se o PSDB perder São Paulo, perde seu curral político, destrói seu melhor ator de renovação e passará a ocupar apenas as páginas policiais com Aécio e os outros que virão na esteira. O PSDB, nascido de uma costela do PMDB, verá seus membros pularem da canoa furada e nadarem em direção à bóia peemedebista. O PSDB voltará ao pó.

E já vai tarde.

"Voltai ao pó partidos que tenham socialista, social, comunista, operário, trabalho, trabalhista e outros esquerdismos em vossos nomes." (Brasil, 10:2018)


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