(Por: Mariano Andrade)
“Se
um dia eu pudesse ver, meu passado inteiro... Eu faria parar de chover, nos
primeiros erros” (Capital Inicial e Kiko Zambianchi)
Mal o novo governo tomou posse e a
imprensa já abriu suas baterias. Jornalistas paus-mandados ou a serviço de uma
desbotada ideologia, ou simplesmente canalhas, perderam o tênue compromisso com
a verdade que ainda tinham. Pululam nos veículos de mídia matérias
tendenciosas, levianas e vergonhosas.
É incrível a quantidade de “balanços”
ou “retrospectivas” dos 10 (dez!) primeiros dias (dias!) de governo. Pergunta:
levam em conta o fim-de-semana como dia útil?
Manchetes como “General Mourão terá
65 assessores” encabeçam, na verdade, um relato sobre o corte de
aproximadamente 50% no número de assessores que o vice-presidente já empreendeu
logo de início e que resultou em 65 assessores ao final. Almejava um corte maior, mas a lei não permitiu. Contudo, o
jornalista quer criar a falsa impressão de gastança para o leitor desavisado.
Há centenas de “furos” de reportagem igualmente cafajestes.
Que tal os “jornalistas” refletirem
sobre outros governos contemporâneos e avaliar seus primeiros dias ou meses? Com
o benefício da História, podem ver o “passado inteiro”.
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Após algumas tentativas frustradas,
Fidel Castro finalmente efetivou o golpe de estado que derrubou Fulgencio
Batista em janeiro de 1959. O governo de Batista havia perdido suporte da
sociedade cubana e dos Estados Unidos, de sorte que Fidel contou com apoio da
classe média e de grupos empresariais quando instalou o novo governo.
Logo nos primeiros meses, Fidel
visitou o presidente americano Dwight Eisenhower para prometer que o objetivo
de Cuba era manter boas relações com os Estados Unidos. Não havia, de início, qualquer
cunho socialista no plano de Fidel.
Ocorre que o otimismo durou pouco.
Ainda no primeiro ano, Fidel embriagou-se com o poder: fuzilou oponentes,
cassou liberdades políticas e de expressão, expropriou fazendas e empresas, e
por aí vai. Hoje, podemos ver o passado inteiro e constatar que – apesar da
promessa inicial auspiciosa – Fidel foi um facínora que matou milhares de
pessoas, governou por quase 60 anos sem nunca ter tido um voto, e conduziu seu
país à miséria. Não sem antes quase ter atacado os Estados Unidos e iniciado a III Guerra Mundial no episódio da crise dos mísseis. As juras de Fidel, pelo jeito, não valiam muito.
A imprensa brasileira, bem como nossos
“intelectuais”, continua acreditando na promessa de 1959, pintando Fidel com um
democrata e herói latino-americano. Mas “continua chovendo” sem parar na vida
dos cubanos...
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Margaret Thatcher assumiu o posto
de primeira-ministra do Reino Unido em 1979 sob bastante escrutínio e
desconfiança. Em seus primeiros “erros”, ela disse que seu objetivo era mudar o
país de uma mentalidade “give it to me”
para uma sociedade “do it yourself”.
O leitor pode imaginar como os detentores de “conquistas sociais” reagiram à
época, e em coro com a imprensa: críticas, cobrança e chacota.
Thatcher não esmoreceu –
empenhou-se em levar a cabo uma agenda liberal, reduziu o tamanho do estado e
privatizou diversos setores. Tudo isso sob intensa oposição dos socialistas e
preguiçosos de plantão. Enfrentou greves, motins e até uma guerra num momento
onde tentava consertar as contas fiscais.
Vendo o “passado inteiro” inglês, é
fácil concluir que Thatcher foi a principal responsável pelo progresso do Reino
Unido no fim do século XX e início do século XXI. Hoje, os britânicos não dependem
da extração de carvão ou da exploração de petróleo no Mar do Norte. O reino
ganhou eficiência, consolidou-se como economia de mercado e geradora de
inovações, desenvolveu o terceiro setor, atraiu estudantes e profissionais de
ponta e hoje é protagonista nas questões globais. A Dama de Ferro entregou um
legado de ouro.
Na verdade, os primeiros erros
foram da imprensa, da opinião popular e da oposição que se apressaram em
julgar. Hoje, os ingleses reconhecem que Thatcher fez “parar de chover” e que
devem muito a ela. No parlamento britânico, há um busto de Margaret Thatcher
com o mesmo destaque que é conferido ao de Winston Churchill – se Churchill
venceu a guerra contra os alemães, Thatcher foi vitoriosa no combate à
hipocrisia, ao rentismo e ao status quo.
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Lula assumiu a presidência do
Brasil em janeiro de 2002 em meio a bandeiras do MST e do PT. Não havia
bandeiras brasileiras. A equipe de governo contava com ex-guerrilheiros e
ex-terroristas (adotando uma certa benevolência, pois o prefixo poderia ser
dispensado aqui). Tudo isso passou em branco na imprensa.
O primeiro erro de Lula, esse sim
sem aspas, foi o lançamento do programa “Fome Zero”. Onde está ele hoje? Nunca
colocou um prato de comida na frente de nenhum brasileiro, um desastre total.
Lula rapidamente apropriou-se de ideias de outros, como o bolsa-escola,
deu-lhes novas roupagens e a imprensa foi só aplausos.
Logo no início do mandato, estourou
o escândalo do mensalão. Proporcionalmente, Lula recebeu muito menos fogo da
imprensa do que Bolsonaro em apenas 10 dias. A imprensa deve ter julgado que
mesada aos parlamentares em troca de votos não era algo muito grave.
A História mostra que a imprensa
falhou. Lula foi uma página infeliz na História do Brasil, cumpre pena pelo
tríplex e responde a tantos outros processos. Seu legado reúne a trágica Dilma Rousseff,
o sucateamento da Petrobrás, e um país acometido por dívida galopante e
economia estagnada.
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A imprensa brasileira precipita-se
em tomar partido e torcer contra o novo governo. Em apenas 10 dias, já houve
progresso relevante no desmonte da máquina petista – na Petrobrás, no
bolsa-família, e em várias outras esferas. Esses recursos serão investidos na
economia, seja com corte futuro de impostos ou mesmo com um longo período de
juros baixos – ancorado em melhoria fiscal – que por si só impulsionará a
economia.
A imprensa golpista pode muito bem
ficar no refrão “só chove, só chove, só
chove”. Mas, no fim das contas (e das cotas!), a vida dos brasileiros vai melhorar se o
governo conseguir entregar o que pretende. E, quando pudermos ver nosso passado
inteiro, a imprensa e seus ridículos personagens serão os grandes perdedores.
(P.S.
O erro de Bolsonaro é comparar-se ao caótico e despreparado Donald Trump.
Deveria subir a barra e usar Thatcher ou Reagan como modelo.)
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