(Por: Mariano Andrade)
"I wanna be elected (...) Everybody has problems and, personnaly, I don't care." (Alice Cooper)
Para quem não acompanha o futebol americano, o jogo parece uma bagunça de pátio escolar. As jogadas começam pela linha de “scrimmage” ou ,traduzindo, linha de escaramuça. O “bolo” de gente que se forma quando a bola entra em jogo parece briga de rua, mas é o “scrum”, termo oriundo do rúgbi, e que numa tradução livre significaria multidão. O próprio jargão do futebol americano já passa a ideia de confusão e embate.
O primeiro debate presidencial envolvendo os candidatos à presidência dos Estados Unidos foi classificado com uma vergonha: uma discussão com troca de acusações, sem respeito às regras e com uso de palavras inapropriadas. Para o espectador casual, foi apenas isso: uma “confusão” à la futebol americano ou pelada de colégio. Faltou um apito para o mediador, tal qual o juiz de uma partida ou o inspetor de um pátio escolar, pôr ordem na casa.
**
Os sintomas observados no debate expõem muito mais do que as
picuinhas e despreparo dos dois candidatos. Os fãs de futebol americano
conseguem entender o que está se passando no “scrum” e conseguem
enxergar ordem no caos e genialidade numa jogada bem executada. Da mesma forma,
uma análise serena do debate mostra que há muito acontecendo na política
internacional – mas diferentemente de uma brilhante infiltração no meio do “scrum”,
nada aqui é muito auspicioso.
Trump foi com a agenda de melar o debate: não deixou seu
oponente falar e interrompeu inclusive o mediador por diversas vezes. A agenda
de Trump denota o nível de idiotia ao qual o eleitorado chegou – não importam
as ideias, o voto é construído em cima de likes e curtidas. Se ele venceu a
eleição de 2016 na base da combatividade, tachando todos os oponentes de
incompetentes ou de termos pejorativos, por que abandonar a estratégia agora?
Joe Biden, por sua vez, abordou temas irrelevantes para a
boa decisão de voto. Por exemplo: quantos dólares Trump pagou de imposto de
renda nos últimos anos. Qual a pertinência disso? Há uma autoridade fiscal e se
Trump violou as regras, será autuado. Se ele pagou 700 dólares de imposto
porque usou compensações permitidas, porque deveria ter feito diferente e
voluntariamente pago mais impostos? O fato de ser um homem público deveria
levar o sujeito a tomar decisões ruins em sua vida privada?
Biden também abordou de forma tosca o tema da Amazônia,
ameaçando o Brasil com sanções econômicas se “não cuidarmos bem da Amazônia”. O
tema objetiva criar um “scrum”, uma bagunça – mas se analisado friamente
mostra que Biden almeja manipular o eleitor. O ótimo documentário “O Dilema das
Redes” mostra como as redes sociais manipulam o usuário valendo-se de respostas
e reflexos incondicionados do nosso “software”. Ao suscitar um tema quente das
redes sociais, Biden subscreve o mecanismo de manipulação das redes e embarca
com tudo. Joe, parte da Amazônia legal está na Venezuela – que tal começar sua
faxina ecológica removendo o ditador que além de árvores está matando pessoas
de fome e opositores a bala?
**
O filme Idiocracy de 2006 é uma comédia que retrata o
mundo no ano 2505 majoritariamente povoado por idiotas, depois de décadas onde
as pessoas burras (ooops, politicamente incorreto) têm mais filhos que as
famílias inteligentes (ooops, de novo). O resultado é uma sociedade que não
sabe lidar com os problemas mais básicos, como tratamento de lixo. Todo o lixo
é acumulado in natura em pilhas a céu aberto. Quando não há mais espaço
para acumular dejetos, a população vai embora do local. Na idiocracia, a raça
humana é nômade.
No mundo de 2505, as pessoas são dominadas pela publicidade
e o consumismo, não existe qualquer traço de curiosidade intelectual ou
científica e a sociedade fica absolutamente uniforme. Todo mundo é igual,
consome produtos iguais e tem comportamento igual. Será que é por acaso que a
idiocracia parece o ideal do comunismo?
O mundo está virando uma idiocracia bem antes do que o filme
previa. As pessoas são “lemmings” das redes sociais, das fake news e do
politicamente correto. Tudo é maniqueísmo, há apenas dois pontos de vista sobre
qualquer tema (contra ou a favor), os cidadãos têm apenas direitos, nenhum
dever. Somos nômades mentais, migramos de uma rede social para outra, de um
modismo a outro, de uma polêmica irrelevante a outra, de uma lacração a outra. Resultado:
não só carecemos de eleitores pensantes e que possam analisar o “scrum”
da política para perceber as ideias e suas consequências, processar informações
e votar com consciência, mas também o mundo falha há mais de 15 anos em
produzir novos líderes.
Greta Thunberg só pode ser personalidade do ano e “ativista
ambiental” num mundo que se imbecilizou. O Partido Democrata ter apresentado
como postulantes à presidência Bernie “en-Sanders-cido” (hipócrita, esquerda caviar) e Joe Biden (o que sobrou) é sintoma
da idiotização das massas. Até o Papa virou panfletador. Trump está longe de ser um gênio ou um líder
inspirador, mas já percebeu que pouco importa o debate de ideias – se até ele
se elegeu, realmente estamos num mundo de idiotas. Metade da piada dos Simpsons
virou realidade, só falta elegerem um membro dos Simpsons no futuro.
A mídia reclama da falta de qualidade e polidez do debate. É o roto falando do esfarrapado. Os veículos de mídia são ainda mais polarizados que o eleitorado, muitos repetem a ladainha da Amazônia e estampam Greta em suas publicações. São partícipes da idiotização coletiva e a entendem como uma forma de lucrar mais. Polarizam questões raciais, decisões de governo e tantas outras que potencializam parte dos idiotas a idolatrar Trump. Nunca nos Estados Unidos houve um contingente tão grande de “one issue voters” – é o eleitor que vota com base em um tema apenas, seja contra o aborto, ou a favor do casamento gay, não importa quem seja o candidato e quais sejam suas propostas sobre os demais temas.
Abundam exemplos de idiocracia “powered by”
companhias de mídia e redes sociais. Uma TV alemã mostrando elefantes na
Amazônia para ilustrar as queimadas? A CNN falando que Trump ter pego covid-19
é o momento mais delicado que a defesa nacional americana já viveu? Os mísseis
de Cuba ou os ataques de 11 de setembro foram moleza. 2505 já chegou!
**
A carência de líderes competentes é um fenômeno secular. Quando surgirá uma nova Thatcher? Será que precisaremos de um inepto que emula o bobalhão Jimmy Carter para que se produza um novo Reagan? Os tempos são tão sombrios que o som de um apito é melhor do que ouvir o que os “líderes” da atualidade têm a dizer ao eleitorado idiotizado.
Comments
Post a Comment