Uma mentira conveniente

 

(Por: Mariano Andrade, com grande colaboração do meu sábio amigo Rodrigo Acioli)


O filme “Uma verdade inconveniente” de 2006 trazia roteiro e apresentação de Al Gore, ex-vice presidente dos EUA e ativista ecológico. Sem considerar as óbvias motivações políticas do filme, a ideia do documentário era mostrar os danos previstos ao planeta caso a sociedade não alterasse seu padrão de vida para reduzir seu impacto no meio ambiente.

 


O filme foi logo considerado não-científico na Inglaterra, e a exibição nas escolas de lá passou a obrigatoriamente conter legendas explicativas para impedir a doutrinação política. Passados 15 anos, é possível localizar diversos sites na internet com listas de previsões grosseiramente furadas do filme, mostrando que – de fato – a “ciência” por trás do roteiro foi bastante capenga, para não dizer inexistente. Por exemplo: Al Gore afirmava que em 10 anos não haveria mais neve no Kilimanjaro. Errou feio, a neve está lá.

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Recentemente, circulou o seguinte clip nas redes sociais. O vídeo poderia ser intitulado “Uma mentira conveniente".  


De início, querer fazer crer que a Amazônia é o “pulmão do mundo” é atentar contra o be-a-bá de ecologia. É uma asneira tão primária quanto aquela da “calmaria” que fez Cabral “acidentalmente” descobrir o Brasil. O pulmão do mundo são os oceanos. O oxigênio que nós consumimos é majoritariamente produzido pelo fitoplâncton. Ponto. A Amazônia, como ecossistema maduro que é, consome endogenamente todo o oxigênio que lá é produzido. Portanto, em que pese a produção esmerada do clip, Roma não vai queimar novamente, a não ser que haja um novo incendiário por lá.

Atribuir a Bolsonaro a culpa pelo fenômeno de desmatamento é deturpar a realidade.  Seja ele leniente ou não, o fato é que esse problema é tão antigo quanto a ocupação da região. Há uma massa de dados a respeito, nem sempre com resultados coerentes ou comparáveis, mas mesmo séries que acusem um aumento de desmatamento em 2019 mostram que, durante a gestão Lula, a situação era bem pior.  https://ipam.org.br/cartilhas-ipam/desmatamento-em-foco/

Nem precisa ir tão longe. Macron, Madonna, Di Caprio e outros “engajados” circularam críticas a Bolsonaro usando fotos antigas de queimadas na Amazônia (o fotógrafo faleceu em 2003!). Ou seja, nada fizeram senão confirmar que o assunto não é novidade. https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/ate-madonna-e-macron-compartilham-fotos-antigas-de-queimadas-em-meio-a-polemica-sobre-amazonia/

O mais interessante é a hashtag ao final do clip, “Defund Bolsonaro”. É o batom na cueca do marido adúltero, Al Gore foi mais discreto. A hashtag denuncia a verdadeira intenção por trás da esmerada produção. É um grito dos establishments doméstico e internacional que se vêem ameaçados pela impressionante agroindústria brasileira.

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Uma vez desconstruída a mentira conveniente, passemos àquelas que são – de fato – as verdades inconvenientes, nos âmbitos doméstico e internacional.

Stephen Kanitz recentemente escreveu um magnífico artigo onde mostra como a agroindústria muda a balança de poder no Brasil. A indústria obsoleta perde e o campo pujante ganha. O status quo é virado ao avesso. A caneta de Kanitz é tão precisa que esgota o tema.  https://blog.kanitz.com.br/crise-politica-2/ 

O “Defund Bolsonaro” é o grito de indústrias brasileiras obsoletas que querem preservar suas benesses, piorando a vida do consumidor brasileiro. Gritam as Autolatinas dos dias de hoje, querendo nos vender suas carroças quando o mundo anda de carro elétrico. Gritam os industriais opulentos que não investem em produção verde e que têm a audácia de, oportunisticamente, usar causas ambientais como instrumento de lobby.

No pano internacional, a verdade deveras inconveniente é que o Brasil é uma ameaça às potências desenvolvidas e isso tem grandes consequências.

O professor Eduardo Brick resume essa questão brilhantemente na figura abaixo. O Brasil está num seletíssimo grupo de países que possui grande população, extenso território (proxy para recursos naturais e biodiversidade) e PIB expressivo. Além disso, em relação aos outros poucos países que combinam os três atributos, temos a vantagem de ter unidade linguística e ausência de conflitos internos de ordem étnica ou religiosa. Como o próprio professor resume, somos um "gigante, porém deitado em berço esplêndido".


Este gigante adormecido assusta as lideranças mundiais pois, se tivermos ordem e progresso tecnológico, além de sermos militarmente fortes, podemos ganhar enorme representatividade global às expensas de países mais velhos (daí o mimimi quando o Brasil procura investir em defesa e se fortalecer militarmente). Por outro lado, não há interesse em que o Brasil descambe para uma situação imprevisível à la Venezuela, Coréia do Norte ou Síria, porque temos "poder potencial" para causar muito estrago na geopolítica. Ou seja, uma "bagunça organizada" é o cenário para o Brasil que se mostra mais interessante para o status quo.

Não é por acaso que qualquer agenda de progresso (atenção: é progresso, não é "progressista") é sabotada por outras pautas cujo condão é causar atrito e dissipar qualquer força-motriz sócio-econômica-soberana. Dentro deste contexto é que as nações desenvolvidas tentam "grudar" no Brasil agendas que obviamente não nos concernem, como "black lives matter", questões de refugiados sírios ou outras tantas. O objetivo é jogar óleo na pista e fazer com que nosso crescimento derrape.

O sucateamento da nossa indústria mostrou que a estratégia funcionou bem. Mas o crescimento do nosso setor agrícola foi passando despercebido até recentemente, e hoje a prosperidade do nosso campo é um incômodo que nossos nêmesis se vêem pressionados a neutralizar rapidamente. E, para tanto, vale qualquer cortina-de-fumaça, desde o âmbito diplomático até os porões do mimimi.

A polêmica das queimadas vem nesse pacote: a agroindústria brasileira incomoda por ser o motor para que realizemos nosso potencial de protagonistas geopolíticos e a “questão da Amazônia” é a narrativa para freá-la. Os organizadores do tétrico vídeo não são amadores, pelo contrário. Basta constatar que o Brasil há décadas cresce abaixo de seu potencial e nós, como verdadeiros patetas, aplaudimos os instrumentos ardilosos que nos empurram a essa mediocridade.

Nossa produtividade rural também incomoda empresas líderes de mercado nos EUA e na Europa, pois em alguns segmentos – por exemplo gestão de irrigação e fertilização por GPS – nossa tecnologia é a melhor do mundo. Já estamos criando e ocupando esses mercados nas fronteiras agrícolas mundo afora, e isso certamente incomoda os polvos tecnológicos como Google, Elon Musk, Amazon, e outros.

O “Defund Bolsonaro” é um grito das gigantes companhias de tecnologia americanas e dos preguiçosos líderes europeus. A Europa, aliás, tem uma verdade bem inconveniente a mostrar pro mundo – foi o continente que mais devastou sua vegetação nativa, mas prefere apontar o dedo na direção dos outros e usa de covardia pegando para bode expiatório uma gestão que acabou de chegar.

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O pior disso tudo é constatar que há brasileiros que aplaudem e espalham o vídeo. São os idiotas-úteis,  não são capazes de entender que a prosperidade do agronegócio gera riqueza que circula na economia e beneficia a todos. A dona de loja de grife em São Paulo fatura mais quando a safra de algodão na Bahia quebra recordes. O blogueiro alienado tem mais hits quando vendemos mais soja, pois mais famílias têm condições de dar a seus filhos adolescentes um aparelho de celular e um plano de dados. A artista engajada, ao se curar da “malária”, terá mais assinantes para sua nova série na Globoplay (correção: exagerei, a Globoplay ganhar assinantes é mesmo dureza). E por aí vai.

Ao perguntar de que lado o espectador está , Bolsonaro ou Amazônia, o clip ataca nossa soberania. E os patetas e venais da esquerda, aqueles que tanto reclamam dos países opressores do primeiro mundo, correm para gritar “do lado da Amazônia!”. Tomam por uma questão de governo o que, na verdade, é uma questão de estado. Querem nos condenar, seja por idiotice ou por interesses próprios, a mais um século de não-realização de nosso potencial. Estamos reescrevendo o caminho da servidão, Hayek deve estar se revirando no túmulo.

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Obviamente o homem interfere no meio ambiente e ninguém deveria discordar de que há que se cuidar da nossa casa. Não há problema em fazer disso uma plataforma política. O problema é manipular a verdade de forma inconveniente.

Comments

  1. Não conheço esse rapaz, Rodrigo Girdwood, ele é bom mesmo ou só consulta o Google?
    :)
    Muito bom!

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    1. Rocha, você é uma figura. Valeu pelo apoio.

      Girdwood é nosso "professor geográfico", o homem que leu a Delta Larrousse e o "Davi" que desafiou o "Golias" Affonso Celso armado apenas do manual do Zé Carioca. Enfim, ele é o verdadeiro mito. Grande irmão nosso!!

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  2. Excelente texto , deveria chegar até ao nosso Presidente e seus ministros ,pois o autor demonstra um farto conhecimento, da farsa que se tenta montar fora e dentro do País,sobre a verdadeira realidade que nos cerca.Parabens , você de fato é um brasileiro patriota .

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    1. Obrigado. Mas qualquer patriota acaba cansando aqui nessa bagunça... Tem q ter muita paciência...

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  3. Show!!! Texto muito bem elaborado. Parabéns !!

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    1. Obrigado, Jonga. Pode compartilhar o link se desejar. Abs.

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    2. Este aqui também fala sobre a propaganda relacionada a meio ambiente.

      https://c-ponto.blogspot.com/2019/09/the-greta-est-show.html

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