Três papas


(Por: Mariano Andrade)

“O papa é pop, o papa é pop, o pop não poupa ninguém” (Engenheiros do Hawaii)

O filme “Dois papas”, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, é uma realização magnífica. Com roteiro bem amarrado e atuações memoráveis de Anthony Hopkins e Jonathan Pryce, a película mostra a transição entre os papados de Bento XVI e Francisco, com os dois homens discutindo sobre os rumos da igreja e da fé católicas.

Há apenas duas ressalvas ao filme. A desnecessária e inadequada aparição de Dilma Rousseff nos minutos finais, e o fato de que o espectador é levado a crer que o roteiro é baseado em fatos reais, quando – na verdade – o mais provável é que quase todos os diálogos sejam fictícios. Mas... e daí? A ficção está em alta mesmo. Este ano, pela primeira vez, a Academia indicou um filme de ficção à categoria documentário. Deus deve mesmo ser brasileiro...

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Cada papa é, na realidade, dois papas. Desde a assinatura do tratado de Latrão em 1929, o Vaticano é um estado soberano e o papa – além de sumo pontífice da Igreja Católica – tem o papel de chefe de estado. É um pouco pior que isso, o papa controla os poderes executivo, legislativo e judiciário do Vaticano, uma pequena tirania, mas felizmente sem muitas consequências dadas as dimensões diminutas do território e população.

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Mas Sua Santidade, o papa Francisco, não parece satisfeito com apenas os dois papéis que lhe cabem oficialmente, visto que frequentemente assume um terceiro: o de militante (ou melhor, panfletador) de causas e líderes socialistas. Este terceiro chapéu parece ser o que mais agrada Sua Santidade que, com frequência, troca os pés pelas mãos, tal qual seu compatriota Maradona.

Há alguns anos, o papa Francisco enviou mensagens de apoio ao ditador Nicolás Maduro. Maduro, que usava o nome de Deus em vão amiúde, comparando Hugo Chávez a Jesus Cristo, chefiava um regime que oprimia liberdades individuais e levava seu povo à miséria e fome. Felizmente, a “mão de Deus” (e não de Maradona) recentemente “endireitou” o papa nesse tema e ele endureceu sua postura face às atrocidades cometidas pelo regime de Maduro. Ponto para o papa, que agiu como chefe de estado, condenando torturas, assassinatos, desaparecimentos e derramamento de sangue de civis.

Mas Sua Santidade é ciclotímica. Em 2015, o papa Francisco visitou Cuba e reuniu-se com Fidel Castro e seu poste Raúl. Meu Deus... Se como pontífice a visita foi um afago ao sofrido povo cubano, como chefe de estado foi um desastre bíblico. O Vaticano, automaticamente, sancionava o regime ditatorial, genocida e opressor que Fidel implantou havia 56 anos e que nunca foi ratificado por voto popular. Em 1978, o governo inglês aprovou a visita oficial de Nicolae Ceaucescu, o facínora que governava a Romênia. Diz-se que a rainha Elizabeth era contra receber alguém que tinha sangue em suas mãos, mas as imagens da visita rodaram o mundo e foram entendidas como uma aprovação dos ingleses ao presidente romeno. Resultado? Após a visita, Ceaucescu endureceu substancialmente seu regime. Pela lente da História, ao visitar Cuba o chefe de estado Francisco jogou pros céus qualquer cuidado ou consequência que um líder deve ter.

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Recentemente, Sua Santidade convidou Lula para uma visita ao Vaticano, teoricamente para discutirem sobre como tornar o mundo um lugar mais justo. Parece sátira do Porta dos Fundos mas infelizmente não é... O papa Francisco abandona seus papéis de pontífice e de chefe de estado e veste a batina de um militante com sanduíche de mortadela e boné do MST. É o “papado em vertigem”.

Lula alia-se sem qualquer penitência a partidos como PSOL, que são antagônicos aos dogmas da igreja e que vociferam contra ela. Defendem aborto, casamento gay, sexualização de crianças, fim de aulas de religião, e outras pautas que são diametralmente opostas às da Igreja Católica. Lula já se comparou diversas vezes a Deus e Jesus Cristo, e tal qual Maduro, não tem apreço algum pelo segundo mandamento (“não usar Seu santo nome em vão”). Portanto, receber Lula – um cidadão normal, sem qualquer cargo representativo no Brasil – é um deslize grave e lamentável para o sumo pontífice da fé católica.

Lula é um condenado pela justiça brasileira e responde a vários outros processos. Está provado que Lula e seus “camaradas” assaltaram e pilharam as estatais e as contas públicas. Segundo alguns, o regime de Lula engendrou o maior esquema de corrupção da história da humanidade. Ou seja, o papa esqueceu-se de que é chefe de estado, desrespeitou as instituições brasileiras e cometeu uma afronta ao governo eleito com 57,7 milhões de votos (57,7 milhões a mais que o de Fidel) ao convidar Lula antes de se reunir com o presidente Bolsonaro.

Mas o mais patético de todos foi o papel de massa de manobra que o papa Francisco desempenhou. Convidar Lula para discutir um mundo mais justo é uma piada de mau gosto. Lula, o sindicalista, já elogiou Hitler. O governo de Lula criou benesses de curto prazo para os mais pobres, aproveitando-se de um superciclo de commodities que encheu os cofres públicos e as cuecas dos petistas de dólares. Seu legado, no entanto, foi um poste (uma “posta”?) que destruiu a economia brasileira quando o vento favorável parou de soprar (Dilma bem que tentou estocar vento... uma visionária!). De tudo que o Lulismo “construiu”, só sobraram processos, escândalos e prisões.

A Igreja Católica precisa se renovar e o carisma do papa Francisco veio bem a calhar. Pena que Sua Santidade insista em minar sua própria imagem engajando-se em interações patéticas e reprováveis – Fidel, Lula, Greta, queimadas na Amazônia e por aí vai. A trupe do Porta dos Fundos deve estar na agenda para 2020.

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Se “a voz do povo é a voz de Deus”, Sua Santidade deveria “escutar” os memes que fecham este texto e se recompor como chefe de estado. Amém.

(P.S. Confesso que, em viagem recente à Itália, estive na cerimônia que o papa faz às quartas feiras numa sala anexa à Basílica de São Pedro. O papa Francisco é de fato uma figura carismática, tomara que seja lembrado por isso e não por associações ridículas com regimes e pessoas lamentáveis. Afinal, o pop não poupa ninguém...)







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