(Por: Mariano Andrade)
Muito antes da
Netflix, uma série que fez sucesso no Brasil foi “Profissão perigo”, também
conhecida como “MacGyver”, nome do personagem principal. MacGyver era um agente
secreto que não usava armas de fogo, portando consigo apenas itens mundanos.
Munido de objetos como lâmpada, luva plástica, barra de chocolate e outras
bugingangas, MacGyver usava seu conhecimento científico para fabricar bombas,
conter vazamentos e, ao final, derrotar todo tipo de bandido.
Algumas façanhas de MacGyver até tinham embasamento científico, mas o seriado exagerava na dose e o telespectador frequentemente se pegava exclamando “ATÉ PARECE!”
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No Brasil, a
verdadeira profissão perigo é a de professor. Com praticamente todos os serviços
e estabelecimentos já tendo retornado às atividades nos quatro cantos do país, os professores se sentem
“inseguros” para voltar às aulas presenciais. Exigem que haja vacina,
tratamento eficaz ou comprovação de segurança ocupacional para a retomada das atividades
nas escolas.
Estão certos: a
profissão é muito arriscada. Para protegê-los, o poder público poderia levar a
cabo algumas sugestões. Por exemplo, colocar tornozeleira eletrônica em todos
os professores, de forma que os irresponsáveis que saíssem de casa para tomar
um chope ou ir ao mercado fossem sumariamente demitidos por justa causa. Assim,
os professores responsáveis não correrão riscos desnecessários quando voltarem
à escola.
Ou melhor:
todos os professores poderiam ser intimados a já entregar seus celulares para o
poder público periciar por onde andaram nesses últimos meses tão perigosos e punir os que atentam contra a segurança da classe.
Outra ideia é
proibir as crianças de circularem nos shoppings, parquinhos e clubes. Podemos
prendê-las em casa até que haja uma vacina. Se demorar 5 anos, 10 anos, 20
anos, não tem problema. Retornarão à escola sem oferecer risco aos professores.
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Ah, como nossos
professores se preocupam com sua saúde, com a saúde de seus pares e com o bem-estar de seus
alunos... É tão comovente... “ATÉ PARECE!!!!!”
A verdade é
que os detestáveis sindicatos de professores querem fazer bagunça, politizar a
questão da pandemia e não pensam por um segundo na questão sanitária, no
bem-estar dos alunos ou na eficácia do EAD. O retorno precisa ter comprovação
científica de segurança, mas a qualidade e efetividade do EAD não. Pátria
Educadora, sei...
Outra verdade
é que os professores horistas adoraram o advento do EAD. Eles têm uma vida mais
calma, sem o tempo e o custo de deslocamento. Dessa forma, torcem para que
venham o covid-20, o covid-21, e por aí vai. Se a educação no Brasil virar uma coleção de vídeos no Youtube, não estão nem aí.
Assim como
MacGyver, os professores de palanque pelo país afora usam argumentos mundanos,
buginganga jurídica e uma mentirada danada para conseguir liminares que impedem
a total retomada das escolas em várias praças. E que surpresa: mesmo com o
retorno sendo facultativo para as famílias e preservando profissionais dos
grupos de risco, esses pleitos descabidos conseguem êxito junto ao nosso
inepto judiciário. Instala-se uma ditadura da minoria, onde um grupo seleto de indivíduos cassa o livre-arbítrio da maioria e impõe sua vontade à sociedade. Toda a opinião que conteste esse teatro do absurdo é "anti-democrática" ou "contra a preservação da vida". A imagem abaixo resume a vergonha alheia.
O exemplo dado pelos barulhentos "mestres" é o de buscar direitos diferenciados, especialidade brasileira e uma de nossas grandes mazelas. Esse posicionamento hipócrita por parte (minoritária, queremos crer) da classe não só é lastimável como ainda mancha uma das profissões mais nobres que existem.
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No caso do Rio
de Janeiro, a Justiça fixou multa de R$ 10 mil por dia ao município se a Prefeitura expedir decreto contrário à liminar que ora impede a abertura do segmento de educação
infantil. Deve haver decisões igualmente esdrúxulas em outras localidades.
O livro Freakonomics
de Steven Levitt e Stephen Dubner conta um caso que pode servir de inspiração
para a situação atual. Havia uma creche particular em Israel cujo horário de
término era 17h, mas que convivia com o crônico problema de pais que se
atrasavam para pegar seus filhos. Isso gerava horas extras e outros custos, de
forma que a creche resolveu cobrar uma multa pré-definida por faixa de atraso.
Uma vez comunicada a mudança às famílias, praticamente todos os pais passaram a
pegar seus filhos com atraso.
O que aconteceu? Ao fixar o “preço” do atraso, a creche eliminou da equação o fator constrangimento e os pais passaram a comparar de forma cartesiana quanto custariam as alternativas. Ter uma babá ou sair mais cedo de seus trabalhos era mais oneroso, e a conclusão era que pagar a hora extra da creche compensava.
Em locais onde a Justiça tiver instituído valor de multa às prefeituras ou diretamente às escolas que retomarem as atividades, quem sabe a dinâmica descrita em Freakonomics possa valer pena? Tudo bem que não é trivial descumprir uma decisão judicial , mas o preço para se fazê-lo está dado...
... Seria como resolver o problema de uma forma inusitada, à la MacGyver.
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