Morte azul


(Por: Mariano Andrade)

"Would someone please let me know how we have spun out of control (...) I see the road to tomorrow in the haze” (Sign of the times, Queensryche)


A cólera é uma doença fatal se não for tratada a tempo. Ela provoca a rápida desidratação do corpo e o indivíduo acometido apresenta coloração azul na pele. Por esse motivo, é também conhecida como “morte azul”.

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Escolas e creches seguem fechadas em várias cidades no Brasil. Mesmo com as instituições de ensino, especialmente as privadas, já adaptadas para receber os alunos com segurança e podendo oferecer um retorno presencial facultativo para alunos e professores, o poder público não autoriza sua reabertura.

A decisão de manter escolas fechadas usa como premissa o fato de o conteúdo letivo poder ser ministrado por EAD. Ou seja, mesmo as aulas online sendo um remédio paliativo, “o serviço essencial está sendo prestado” e “o importante é salvar vidas”. Ou seja: está tudo bem.

Só que o remédio – a luz azul das telinhas usadas no EAD – mata os alunos pelos seus efeitos colaterais. Isolamento, depressão, automutilação, transtornos obsessivos. Em alguns casos, o pior acontece e jovens tiram sua própria vida. Independente da ótima qualidade do EAD que algumas escolas lograram, é uma morte azul que pode ser rápida como na cólera, ou lenta e degenerativa. Os que não têm acesso ao EAD morrem do mesmo jeito mas sem cor.



Os pediatras são amplamente a favor da reabertura das escolas. Muitos reportam números recorde de clientes sofrendo de transtornos e sendo enviados para terapia ou psiquiatras. Donos e funcionários de cantinas e vans escolares estão desesperados sem rendimentos. Pais que não têm onde deixar seus filhos para poderem retormar o trabalho estão igualmente afundando. Que vidas o poder público está salvando?

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A Suécia adotou restrições mais brandas e sem confinamento obrigatório. Preferiu apelar para o bom-senso das pessoas e seguir a vida. A estratégia pode não ser unanimidade na classe científica mas teve méritos, como se pode ver no gráfico abaixo – enquanto os vizinhos têm uma segunda onda relevante, a Suécia passa bem (Argentina, ninguém chorará por ti). O ciclo completo da pandemia poderá validar a condução Sueca e mostrar que o país tem mais a oferecer ao mundo do que pirralhas “ativistas”. No Brasil, não temos a mesma civilidade ou condições habitacionais da Suécia, de forma que o confinamento de março e abril foi necessário.


Lembremos que o objetivo do confinamento foi achatar a curva de contaminação, de modo que o sistema de saúde aumentasse sua capacidade. Nunca objetivou-se evitar o contágio, e sim redistribuí-lo temporalmente. De fato, hospitais de campanha foram erguidos, lotes de EPI foram adquiridos e as cidades se prepararam para a retomada econômica. Do momento em que bares, shoppings, restaurantes e academias reabriram, por que não as escolas? Que sentido há em desmontar hospitais de campanha – já que a curva de contágio é cadente e os tratamento empíricos reduzem a taxa de agravamento – e manter escolas fechadas?


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Recentemente, alguns sindicatos de professores conseguiram liminares para impedir o retorno das escolas em algumas praças. Algumas decisões de juízes de primeira instância são absolutamente esdrúxulas, determinando que as instituições permaneçam fechadas até que haja uma vacina ou comprovação de que a reabertura é segura.

Só haverá “comprovação” de que a reabertura é segura se ela acontecer. Além disso, segurança é um conceito relativo: não se espera que zero criança seja contaminada após o reinício das aulas – até porque elas já circulam livremente em shoppings, clubes e restaurantes e podem transmitir ou contrair o vírus nesses locais. Qual o grande benefício então de manter as escolas fechadas e todo o resto aberto? Como isolar os efeitos de contágio em cada tipo de estabelecimento frequentado por jovens e crianças para então ser possível medir a segurança da volta escolar? Será que o judiciário apresentou um modelo matemático para ajudar na aferição?

O “até que haja uma vacina” é uma pérola kafkiana, mais uma jaboticaba ridícula. O sujeito que interrompeu sua vida sexual esperando uma vacina para a AIDS certamente virou monge budista. Naturalmente, as pessoas seguiram sexualmente ativas tomando as novas precauções necessárias. Essa liminar expõe a grosseira desqualificação do nosso judiciário e o abuso de poder de nossos tribunais.

Se é para esperar uma vacina, é melhor que escolas públicas e privadas demitam ao menos todo o pessoal de apoio. Inspetores, faxineiras, seguranças, babás. Quem sabe demitir todos os professores e passar a adotar o material do Telecurso Segundo Grau?  Quando houver segurança ou vacina, recontrata-se.

Mas basta sair uma decisão criminosa e irresponsável como essa e figuras lamentáveis como Freixo e Tarcísio Motta soltam fogos nas redes sociais. Emulam os bandidos que seu partido defende e o rito de foguetório quando chega novo carregamento de drogas à comunidade.

Nossa estrada para o amanhã realmente tem pouca visibilidade, como diz a canção do Queensryche. Estamos girando fora de controle e criando uma geração de sociopatas, suicidas e transtornados. Há diversos experimentos que mostram a dificuldade de reintegrar ao seu habitat natural um animal selvagem domesticado, o Brasil tentará o oposto – reintegrar à sociedade uma geração de humanos selvagens, crianças e jovens saídos do confinamento “quando houver uma vacina”. Estamos destruindo famílias que dependem do ecossistema escolar para auferir seu sustento. Tomara que Deus seja realmente brasileiro.

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Somos a Jonestown do século XXI, os juízes e governantes são o Jim Jones da vez. Os políticos aplaudem a distribuição do kool aid e colocam uma luz azul para camuflá-lo. Teremos o suicídio coletivo sob a égide de “preservar vidas”.

Basta de desidratar! Está na hora de psicólogos e pediatras levantarem a voz. Está na hora de as escolas provarem que não são veículos de doutrinação e exigirem o reinício com sistema facultativo. Está na hora de as famílias e profissionais do ensino poderem exercer seu livre arbítrio, dentro das normas de segurança que os tempos impõem – exatamente como decidem se querem ou não circular em shoppings, bares e academias. Não podemos, como cidadãos livres, aceitar que todas as famílias sejam forçadas a entregar o futuro de seus filhos ao acaso da curva de propagação de um novo vírus, às decisões tresloucadas de juízes acéfalos e à agenda nefasta de governantes abomináveis.

"Viver não é esperar a tempestade passar. É aprender a dançar na chuva.” (autor desconhecido)



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