A vacina do covid: esta é a pauta mais importante da humanidade, talvez rivalizada apenas pela urgência em “salvar a Amazônia de um governo tirano”. Parece que, entre a cura do câncer e a vacina do covid, a maioria dos “jornalistas”, “professores”, sindicalistas e políticos preferiria a vacina.
O mundo
realmente ficou doido. E, como se diz no mercado financeiro, quando o hemisfério norte pega uma gripezinha (com trocadilho), o Brasil tem pneumonia. A “loucura covidiana” no Brasil é absolutamente alarmante.
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O interessante livro “The demon in the freezer” de Richard Preston elabora sobre a história da varíola e o risco de o vírus da doença ser usado como arma biológica. O último caso de contaminação natural de varíola ocorreu na década de 70, e a OMS declarou a doença erradicada em 1980. O autor estima que a varíola tenha matado 1 bilhão de pessoas nos 100 anos precedentes (ou seja, 10 milhões por ano em média!), embora outras fontes produzam números menores mas igualmente impressionantes. Contudo, a humanidade foi irreponsável o suficiente para manter duas amostras do vírus, uma delas nos EUA (teoricamente segura) e a outra na antiga URSS. Segundo o autor, vários países já possuem cepas de varíola e esse é o maior risco sanitário à humanidade.
A varíola
foi uma doença extremamente letal – segundo Preston, os médicos usavam como
regra de bolso uma morte a cada três contaminados. Muitos dos que não morriam
perdiam a visão ou ficavam com a pele desfigurada por cicatrizes. O R-zero da
varíola era entre 4 e 17, ou seja, cada paciente acometido a transmitia para
entre 4 e 17 outras pessoas. A contaminação era extremamente poderosa – o livro
narra um caso na Alemanha em 1970 do qual o paciente zero conseguiu transmitir
a outras pessoas mesmo ele estando em um quarto de hospital de confinamento.
Detalhe: transmitiu para pessoas alojadas em outros quartos selados e situados
em andares mais altos! Havia vacina, mas ela tinha boa eficácia por apenas 4 ou
5 anos.
Resumindo: segundo o autor, uma única partícula de varíola lançada num estádio de futebol cheio seria o suficiente para contaminar 50 milhões de pessoas espalhadas pelo mundo em apenas quatro meses.
É curioso
que, apesar da virulência e letalidade da doença e da curta validade da vacina,
não há registros (ao menos na segunda metade do século XX) de confinamentos,
uso obrigatório de máscara, fechamento de comércio e escolas, interrupção de
tráfego aéreo ou placar diário de mortes nos veículos de mídia. Basicamente, a
sociedade conviveu com o problema tomando os cuidados necessários e amparada
por mídia e poder público empenhados em lidar com a questão sanitária usando a
medida correta a cada momento do tempo. O livro descreve alguns surtos da
varíola e como os especialistas trabalharam para os conter – durante essas
campanhas, não se instalou pânico ou caos global, mesmo a humanidade já
conhecendo a gravidade da doença.
O livro
também descreve como houve colaboração internacional decisiva para a
erradicação, mesmo durante a Guerra Fria. Mesmo países que se ameaçavam
diuturnamente com armas nucleares foram capazes de atacar a questão sanitária
sem mimimi. A participação da União Soviética, segundo o autor, foi
instrumental para que se lançasse a força-tarefa internacional de erradicação
nos anos 60.
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A OMS estima que a letalidade da covid seja de 0.6%. Se isolados alguns
grupos de risco, como idosos, provavelmente a taxa é muito menor. Se computarmos o fato de que
há diversos pacientes que tiveram a doença assintomática (o que era raro na
varíola) e não entram na conta, a letalidade pode ser ainda bem mais baixa. O R-zero
da covid é cerca de 0.9.
Porém a
sociedade reagiu de forma absolutamente desproporcional. Obviamente que os
primeiros meses foram importantes para acumular conhecimento sobre a doença,
avaliar tratamentos e achatar a curva. Mas apesar desses objetivos terem sido
cumpridos, a comoção coletiva permanece em vários lugares do mundo (mas não na
China, onde tudo começou – curioso, não? Por lá, as aglomerações já estão
autorizadas.).
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No Brasil, como
de praxe, tudo é ainda pior. E a covid revela que nossas doenças tropicais são
bem mais graves. O pânico desproporcional e coletivo foi bastante conveniente
para que as nossas velhas patologias se manifestassem com força.
Temos a
sina de ostentar os piores políticos do mundo, e portanto a covid virou software
de corrupção e plataforma eleitoreira por aqui. Resultados: crise
institucional, governador afastado, vários episódios de superfaturamento de
respiradores e EPIs, hospitais de campanha erguidos e logo desmontados.
Temos
também a sina dos políticos e sindicatos desprezíveis, entes que desejam
controlar a vida das pessoas, obrigando-as à subserviência ao estado pela
destruição da economia privada e da educação. Resultado: milhares de empresas e
profissionais liberais quebrados, escolas fechadas há 6 meses, crianças com
problemas psicológicos, suicídios.
Não menos
danosa, nos acomete a sina de uma imprensa carcomida. “Jornalistas” que colocam
ideologias à frente da informação e empresas que se valem de uma crise para
tentar recuperar a influência ora perdida para mídias digitais e propagar seu
ideário. É o “fique em casa” repetido ad nauseam e a contabilidade das mortes
em telejornais, programas de variedades e até em jogos de futebol.
E temos a
odiosa sina de dois-pesos-e-duas-medidas e ela se manifesta de várias formas,
todos os dias. É o médico considerado herói combatendo o covid (fato!) e o
policial vilipendiado ao morrer enfrentando bandidos. É o “meu corpo minhas
regras” para a questão do aborto mas não quando se trata de uma “vacina”
qualquer para a covid, mesmo a xing-ling, porque aí é antidemocrático não se
vacinar (detalhe: a varíola foi erradicada sem que houvesse vacinação
universal. Adotou-se a estratégia de cinturões de vacinação). É o STF censurar
publicações “fascistas” mas permitir que outras desejem a morte do presidente
da república a céu aberto.
E, em fevereiro, teremos carnaval. Pode apostar.
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No meio
dessa maluquice toda vêm as estapafúrdias decisões judiciais e opiniões de
políticos lamentáveis que preconizam o
fim do confinamento ou a volta das escolas somente quando "houver segurança" ou
quando houver vacina. É uma proposição tão ridícula quanto a seguinte: se
formos invadidos pelo Paraguai, ficamos todos dentro das nossas casas até eles
irem embora. Ou então até os argentinos virem aqui expulsar os invasores.
Interrompemos
nossas vidas e, durante este “show do intervalo”, nossas crianças emburrecem,
nossos jovens adoecem, o erário público é subtraído, nossa economia é destruída
e o lado negro da força prevalece. O vírus nos vence com 0.6% e o Paraguai ocupa o florão da América.
Será que terá
sobrado algum traço de sanidade na sociedade brasileira quando a vacina
“redentora” aparecer? No Brasil, não é exatamente da vacina que precisamos. Nem se sabe se ela
virá. Precisamos que vá embora nossa sina de fazer tudo errado.
Vá, sina!
Vá embora!
Muito bom, repaginado!
ReplyDeleteValeu, irmão.
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